Acontece-me agora frequentemente, não me conseguir lembrar do que fiz ontem ou a semana passada, mas ter muito presente memórias de tempos vividos sobretudo na infância e um pouco mais diluídos, na juventude.
Isto quer dizer que estou a envelhecer...
É por esta razão que muitas pessoas da minha idade, começam a ter necessidade de transmitir aos outros os tempos que viveram quer falando sobre esses períodos da sua vida, quer alguns, escrevendo as suas memórias.
Comecei agora a ler um livro que a Tété e o Miguel me deram no Natal: "Casas Contadas" da Leonor Xavier.
As primeiras 4 casas que descreve, com todo o pormenor, são as casas onde viveu a sua infância e juventude.
Também ela, nascida como eu em 1943, sentiu a necessidade de falar sobre aquilo que viveu.
Gosto tanto de escrever que gostaria de, como ela, ter aprendido técnicas de escrita, Teoria da Literatura, ter tido na Faculdade, ou mesmo depois, quem me ensinasse as técnicas.
Toda a minha formação é na área das Ciências e da Matemática e por isso devo cometer erros de palmatória no que às referidas técnicas se refere.
Escrevo ao sabor da "pena" que neste momento, para mim, é o teclado do computador.
Quando escrevi o livro sobre a Mãe, em 2003, escrevi bastante sobre essa época, mas mais sob a perspectiva da educação que a Mãe nos deu e não tanto, das recordações que tenho.
Agora, 8 anos depois, estou mais debruçada sobre mim própria e sobre a influência que essa educação teve sobre a formatação da minha vida e até sobre a maneira como eduquei as minhas filhas.
Podia analisar todas essas coisas sozinha com os meus pensamentos e ficar-me por aí, como fazem as minhas irmãs e a maior parte das pessoas que eu conheço.
Eu, tenho necessidade de as escrever....
E foi um bocadinho por isso que criei este blog.
Um dos sentimentos que gostava de deixar aqui registado é que não tenho quaisquer saudades desse tempo. Nem da infância, nem da adolescência nem de toda a minha juventude.
Criança muito bem comportada, muito tímida e com muitos, muitos medos.....
Adolescente endiabrada, insolente, irreverente e muito baralhada de ideias....
Universitária confusa, apaixonada, mas desenraizada.
Não tenho nenhumas saudades de mim própria nessas épocas.
Já gostei mais de mim na idade adulta, tanto como Mãe, como na vida profisssional, mas esse é o tempo que menos recordo pois passou todo a correr.
Gosto mais, mas muito mais, de mim agora e do tempo que estou agora a viver.
Sinto-me agora muito mais segura, madura e talvez por já ter completado as obrigações, mais liberta para fazer o que gosto e o que me apetece fazer.
Do tempo passado na infância e adolescência tenho saudades das coisas que me rodearam: das casas e do seu recheio, dos sabores, dos cheiros...
Tenho muitas saudades de sensações: a protecção, o conforto, o calor da braseira, o colo do meu Pai...
Tenho também muitas saudades das pessoas que rodearam essas fases da minha vida:
- A Avó Aurora, o Avô João Leitão, o Avô António Morais, a Tia Ema...
- Os meus primos-irmãos - Jorge e Rui.
- Os meus queridos irmãos João e Pedro.
- As criadas que nos assustaram mas que ao mesmo tempo nos alimentaram, nos pentearam e nos acarinharam.
Tenho muitas saudades do meu querido Pai.
E tenho muitas e muitas saudades suas, Mãe.