Depois do Nuno Lobo Antunes li:
-"Uma pedra no sapato" da Luisa Beltrão
Gostei bastante e admira-me como uma "rapariga" da minha idade se consegue colocar na pele de uma miúda de 15 anos da época actual.
Acho que para nós é difícil imaginar-se na pele das filhas, quanto mais na das netas....
- "O eco silencioso" do João Lobo Antunes
É um livro de crónicas publicadas aqui e ali e de conferências.
Um bocadinho chato pois usa e abusa de referências bibliográficas, o que o torna cansativo e enfadonho.
Da parte que mais gostei foi da final, onde faz 4 elogios em homenagens ( Fernando de Pádua, Manuel Machado Macedo, António Lobo Antunes e Daniel Serrão) e 4 críticas de livros (" A misteriosa chama da Rainha Luana" - Umberto Eco; "Sábado" - Ian McEwan; "As lições dos Mestres" - George Steiner e "Acentos" de Fernando Gil.
Como não leio bem inglês e acho que se perde muito ao ler traduções, estou distanciada dos best-sellers ingleses e americanos.
Numa manhã deste Verão em Lisboa, fui até Belém.
Sair do carro, olhar o rio, alargar a vista para os Jerónimos e percorrer a entrada do CCB até à Bertrand, para mim é bom, enche-me o espírito e dá-me vontade de agradecer a Deus por estar viva, com saúde e saber tirar prazer de pequeninas coisas.
Na Bertrand comprei o livro do Ian McEwan e mais 2, um do Philip Roth e outro da Alice Vieira e ainda trouxe o programa do CCB e a revista "Ler".
Vinha contente com a compra, os livros são bonitos e tirei-lhes esta fotografia:
Gostei do "Sábado" passado com o Dr. Perowne - médico neuro-cirurgião e fiquei com curiosidade e vontade de ir à Bertrand comprar o resto da pilha que lá está deste escritor.
O João Lobo Antunes dizia na sua crítica: "Sábado, não sendo um grande livro, é uma óptima leitura".
Também acho!!!
Não me chocou a tradução feita por Maria do Carmo Figueira para a Gradiva.
Pelo menos não perdi o fio à meada, dezenas de vezes, como me aconteceu ao ler "Património", de Philip Roth.
O livro é da D. Quixote e a tradução de Fernanda Pinto Rodrigues - pareceu-me má e há nele frases que não fazem qualquer sentido em português.
Foi pena, pois o livro interessou-me como todos deste género: uma história da família, verdadeira.
É a história da doença e morte do seu Pai com um tumor no cérebro.
Doloroso, real, contando episódios muito semelhantes a tantos a que eu e as minhas irmãs assistimos quando acompanhámos os nossos velhotes.
A velhice é uma chatisse!
Todos os dias, tal como a Mãe, rezo a Sâo Judas Tadeu para pedir por mim a Jesus, "pouco mal e boa morte".
A Alice Vieira vou lendo nos intervalos. São posts de um blogue e textos avulso.
Uns giros, outros nem tanto.
Como os deste blogue.
Descobri agora que ela é comunista. Não sabia. Não compro mais nenhum.
Também vou lendo nos intervalos este da Maria José Costa Felix:
Ajuda-me nas horas "down".
19 agosto 2011
Saladas de Verão
Hoje deu-me para escrever.
Já publiquei e rascunhei e escrevi e apaguei. Deve ser porque o tempo enevoado me lembra o outono e a vontade de estar em casa a ler e a escrever....
Fiz uma salada apetitosa para o almoço.
Devia almoçar sempre assim.
Já publiquei e rascunhei e escrevi e apaguei. Deve ser porque o tempo enevoado me lembra o outono e a vontade de estar em casa a ler e a escrever....
Fiz uma salada apetitosa para o almoço.
Devia almoçar sempre assim.
Manias da minha avó
Sempre tive pancadas e manias...
De vez em quando entusiasmo-me por uma coisa e só faço isso e só penso nisso.
Foi assim que depois de escrever o blogue sobre a viagem à Croácia, tive que fazer um 2º e um 3º. E ainda não fiz mais porque acho que é uma estupidez e mais tarde ou mais cedo vou deixá-los a meio e entusiasmar-me por outras coisas.
No tempo do Instituto tinha a mania de ler tudo o que me vinha à mão. Fazia listas de livros, cadernos com a classificação dos livros que lia, arrumava os livros por temas e autores....tanto os meus como os do meu Pai.
Quando comecei a trabalhar, passei às colecções de selos e de moedas. Comprei catálogos, e fiz listas do que me faltava. Andei por feiras e lojas especializadas, fiz-me sócia dos CTT - Filatelia e comprava álbuns e pinças e fitas de coleccionar e selos novos e usados.
Comprei moedas raras e coleccionei as temáticas e classifiquei e comprei livros para fazer as sempre amadas Listas.
Fiz colecções simples e temáticas e comecei uma colecção só de flores classificadas pela Botânica.
Deixei tudo a meio...
Depois de casar pus-me a fazer tricot que nem uma louca e fazia casaquinhos para as filhas bébés e mantinhas e chailes e depois camisolas de losangos dificílimas e quanto mais complicadas melhor.
Passado um tempo dediquei-me aos tapetes de arraiolos e logo o 1º era (e tinha de ser assim!!!) super complicado.
Ainda me lembro que depois de dias e dias a fazer a 1ª barra, cheguei a uma ponta e aquilo não dava certo e tive que desmanchar. A Mãe estava perto de mim e ficou furiosa comigo: vais desmanchar? não faças isso!!! Olha a tua paciência!!!
A Mãe que não era nada dada a trabalhos manuais não percebia essa mania da perfeição.
E depois de acabar ainda fiz outro e um terceiro.
Passou-me essa e voltou a do tricot quando começaram a vir os netos.
Agora, que as crianças começaram a crescer e estou mais desocupada, recomecei a ler e vamos ver se não abandono o blogue.
De vez em quando entusiasmo-me por uma coisa e só faço isso e só penso nisso.
Foi assim que depois de escrever o blogue sobre a viagem à Croácia, tive que fazer um 2º e um 3º. E ainda não fiz mais porque acho que é uma estupidez e mais tarde ou mais cedo vou deixá-los a meio e entusiasmar-me por outras coisas.
No tempo do Instituto tinha a mania de ler tudo o que me vinha à mão. Fazia listas de livros, cadernos com a classificação dos livros que lia, arrumava os livros por temas e autores....tanto os meus como os do meu Pai.
Quando comecei a trabalhar, passei às colecções de selos e de moedas. Comprei catálogos, e fiz listas do que me faltava. Andei por feiras e lojas especializadas, fiz-me sócia dos CTT - Filatelia e comprava álbuns e pinças e fitas de coleccionar e selos novos e usados.
Comprei moedas raras e coleccionei as temáticas e classifiquei e comprei livros para fazer as sempre amadas Listas.
Fiz colecções simples e temáticas e comecei uma colecção só de flores classificadas pela Botânica.
Deixei tudo a meio...
Depois de casar pus-me a fazer tricot que nem uma louca e fazia casaquinhos para as filhas bébés e mantinhas e chailes e depois camisolas de losangos dificílimas e quanto mais complicadas melhor.
Passado um tempo dediquei-me aos tapetes de arraiolos e logo o 1º era (e tinha de ser assim!!!) super complicado.
Ainda me lembro que depois de dias e dias a fazer a 1ª barra, cheguei a uma ponta e aquilo não dava certo e tive que desmanchar. A Mãe estava perto de mim e ficou furiosa comigo: vais desmanchar? não faças isso!!! Olha a tua paciência!!!
A Mãe que não era nada dada a trabalhos manuais não percebia essa mania da perfeição.
E depois de acabar ainda fiz outro e um terceiro.
Passou-me essa e voltou a do tricot quando começaram a vir os netos.
Agora, que as crianças começaram a crescer e estou mais desocupada, recomecei a ler e vamos ver se não abandono o blogue.
Não acontece só aos outros
Os assaltos no Algarve têm sido uma constante.
Desta vez aconteceu numa casa da nossa família.
Que chatisse!!!
Pelo menos não fizeram mal a ninguém.
Foi na Quinta do sol em casa do João e da Mafalda.
Roubaram o carro da Mafalda e do cunhado.
E...estiveram dentro de casa deles com todos a dormir.
Que horror!!!!!!!!!!!
A notícia saiu no CM:
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/portugal/gang-rouba-dois-veiculos-de-luxo
Desta vez aconteceu numa casa da nossa família.
Que chatisse!!!
Pelo menos não fizeram mal a ninguém.
Foi na Quinta do sol em casa do João e da Mafalda.
Roubaram o carro da Mafalda e do cunhado.
E...estiveram dentro de casa deles com todos a dormir.
Que horror!!!!!!!!!!!
A notícia saiu no CM:
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/portugal/gang-rouba-dois-veiculos-de-luxo
12 agosto 2011
Melhor ainda!!!
Para ver o mar sempre que me apetecer, consegui fazer este filmezinho na Ericeira ontem dia 11/8/2011.
O telemóvel não é uma máquina de filmar, mas para consumo próprio serve...
Uma escapada de 2 dias bastante agradável fugindo ao calor de Lisboa.
O telemóvel não é uma máquina de filmar, mas para consumo próprio serve...
Uma escapada de 2 dias bastante agradável fugindo ao calor de Lisboa.
09 agosto 2011
E o mar aqui tão perto...
Nascida nas altas serranias da Estrela, adoro o mar.
Sou capaz de estar horas a ver as ondas a rebentar.
Fomos à praia e tirei esta linda fotografia ao mar que é nosso.
Sou capaz de estar horas a ver as ondas a rebentar.
Fomos à praia e tirei esta linda fotografia ao mar que é nosso.
04 agosto 2011
Exame de consciência
Gostas de pessoas? Nem por isso! Gosto muito de algumas pessoas mas poucas e esqueço-me da maior parte.
Sou medrosa e isso faz com que me afaste com grande rapidez de pedintes, pessoas com mazelas, emagrecidos pelas drogas ou quaiquer outras repelências.
Admiro as pessoas que conversam com os marginais sem receio e tratando-os como iguais.
Outro dia na sala de espera de um Hospital Público apareceu um rapaz de 13 ou 14 anos a vender o Borda d'água e pensos rápidos. Tinha uma voz esquisita e um aspecto pouco recomendável.
Eu, disse-lhe que não e mudei logo para um sítio menos acessível.
Houve pessoas que não quiseram e outras que compraram mas uma senhora falou com o rapaz: onde moras? vives com os teus Pais? porque é que tens que andar a vender?
Não ouvi as respostas mas ainda a ouvi dizer-lhe: "Vale mais andar a vender do que a roubar".
O rapaz foi-se embora, concerteza mais confortado com esta pequena conversa.
Recebi duma pessoa desconhecida uma lição de humanidade.
Na minha rua, viveu durante muitos anos um homem estrangeiro que dormia na soleira dum prédio perto do nosso.
Nunca lhe dirigi a palavra, nem me cheguei perto dele.
Fumava 7 maços de cigarros por dia, andava andrajoso e metia imensa aflição.
Muita gente do bairro o deve ter ajudado, mas eu não.
Acabou por morrer e tenho pena de nunca ter conseguido vencer os meus receios mas foi sempre superior às minhas forças.
Ontem fomos jantar com as filhas que estão cá sem os filhos delas.
Fora do restaurante abeirou-se um desgraçado e cada um reagiu à sua maneira. A Rita ficou escandalizada e deu-nos a todos um sermão pela falta de caridade e respeito pela dignidade das pessoas.
Na altura refilei, mas acho que a Rita tem razão.
Lembrei-me das palavras de Jesus e fui à procura aqui na net.
Aqui ficam os escritos de Mateus - 25:
Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;
e diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos;
e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda.
Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes;
estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me.
Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos?
Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te?
E responder-lhes-á o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes.
Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai- vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;
porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;
era forasteiro, e não me acolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo, e na prisão, e não me visitastes.
Então também estes perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou forasteiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?
Ao que lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixaste de fazer a um destes mais pequeninos, deixastes de o fazer a mim.
E irão eles para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna.
Hoje fui-me confessar.
Ajude-me a ser melhor, Mãe!!
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conversas com a Mãe
Aqui fica!
No dia 6 de Julho morreu, vítima de um cancro a Zezinha Avillez, nome pelo qual sempre a conheci, através da amizade com a Tété e com o Miguel.
Falei com ela poucas vezes, mas acompanhei o seu percurso, a sua vida particular e pública, tanto pelo que a Tété me ia contando, como pelos debates, frente-a-frentes, intervenções na A.R. e artigos de opinião.
Sempre gostei de a ler e de a ouvir e me identifiquei com as suas opiniões.
Admirei-a de longe ao longo de todo o seu percurso.
Sensibilizou-me imenso o último artigo que quiz deixar na sua coluna de opinião no DN.
Admira-me, como penso que a toda a gente, a coragem que é preciso para com a falta de forças que , concerteza já tinha, ter conseguido a energia para escrever este último e grandioso testemunho de valentia.
Gostei também de ler as palavras que a seu respeito o Jaime, seu marido, leu, na missa de 7º dia. Para que não se percam no meio do disco do meu computador, digo como costuma dizer o Mário Crespo:
Aqui fica!!!!
Nada me faltará
Por Mª José Nogueira Pinto - publicado no DN no dia 7 de Julho de 2011
Acho que descobri a política - como amor da cidade e do seu bem - em casa. Nasci numa família com convicções políticas, com sentido do amor e do serviço de Deus e da Pátria. O meu Avô, Eduardo Pinto da Cunha, adolescente, foi combatente monárquico e depois emigrado, com a família, por causa disso. O meu Pai, Luís, era um patriota que adorava a África portuguesa e aí passava as férias a visitar os filiados do LAG. A minha Mãe, Maria José, lia-nos a mim e às minhas irmãs a Mensagem de Pessoa, quando eu tinha sete anos. A minha Tia e madrinha, a Tia Mimi, quando a guerra de África começou, ofereceu-se para acompanhar pelos sítios mais recônditos de Angola, em teco-tecos, os jornalistas estrangeiros. Aprendi, desde cedo, o dever de não ignorar o que via, ouvia e lia.
Aos dezassete anos, no primeiro ano da Faculdade, furei uma greve associativa. Fi-lo mais por rebeldia contra uma ordem imposta arbitrariamente (mesmo que alternativa) que por qualquer outra coisa. Foi por isso que conheci o Jaime e mudámos as nossas vidas, ficando sempre juntos. Fizemos desde então uma família, com os nossos filhos - o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e com os filhos deles. Há quase quarenta anos.
Procurei, procurámos, sempre viver de acordo com os princípios que tinham a ver com valores ditos tradicionais - Deus e a Pátria -, mas também com a justiça e com a solidariedade em que sempre acreditei e acredito. Tenho tentado deles dar testemunho na vida política e no serviço público. Sem transigências, sem abdicações, sem meter no bolso ideias e convicções.
Convicções que partem de uma fé profunda no amor de Cristo, que sempre nos diz - como repetiu João Paulo II - "não tenhais medo". Graças a Deus nunca tive medo. Nem das fugas, nem dos exílios, nem da perseguição, nem da incerteza. Nem da vida, nem na morte. Suportei as rodas baixas da fortuna, partilhei a humilhação da diáspora dos portugueses de África, conheci o exílio no Brasil e em Espanha. Aprendi a levar a pátria na sola dos sapatos.
Como no salmo, o Senhor foi sempre o meu pastor e por isso nada me faltou -mesmo quando faltava tudo.
Regressada a Portugal, concluí o meu curso e iniciei uma actividade profissional em que procurei sempre servir o Estado e a comunidade com lealdade e com coerência.
Gostei de trabalhar no serviço público, quer em funções de aconselhamento ou assessoria quer como responsável de grandes organizações. Procurei fazer o melhor pelas instituições e pelos que nelas trabalhavam, cuidando dos que por elas eram assistidos. Nunca critérios do sectarismo político moveram ou influenciaram os meus juízos na escolha de colaboradores ou na sua avaliação.
Combatendo ideias e políticas que considerei erradas ou nocivas para o bem comum, sempre respeitei, como pessoas, os seus defensores por convicção, os meus adversários.
A política activa, partidária, também foi importante para mim. Vivi--a com racionalidade, mas também com emoção e até com paixão. Tentei subordiná-la a valores e crenças superiores. E seguir regras éticas também nos meios. Fui deputada, líder parlamentar e vereadora por Lisboa pelo CDS-PP, e depois eleita por duas vezes deputada independente nas listas do PSD.
Também aqui servi o melhor que soube e pude. Bati- -me por causas cívicas, umas vitoriosas, outras derrotadas, desde a defesa da unidade do país contra regionalismos centrífugos, até à defesa da vida e dos mais fracos entre os fracos. Foi em nome deles e das causas em que acredito que, além do combate político directo na representação popular, intervim com regularidade na televisão, rádio, jornais, como aqui no DN.
Nas fraquezas e limites da condição humana, tentei travar esse bom combate de que fala o apóstolo Paulo. E guardei a Fé.
Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. E também com a família e com os amigos. Esperando o pior, mas confiando no melhor.
Seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará.
************************************************************************
Palavras de Jaime Nogueira Pinto na missa de 7º dia
Não vos vou falar mais da Zézinha. Porque todos a conheceram e já muitos falaram dela nestes dias. E bem. Eu, aqui, vou falar-vos da Zézinha e de nós – de mim, dos meus filhos e da nossa família - nestes cinco últimos meses desde que soubemos da doença dela, num Sábado 12 de Fevereiro, faz hoje precisamente cinco meses. Conheço bem as narrativas de aceitação cristã e resignada das provações que Deus manda – desde o Livro de Job às histórias dos mártires e perseguidos de todos os tempos. Mas nunca tinha assistido, e vivido, de perto, e também na pele, essa experiência. Nesse dia no Hospital da Luz a Zézinha foi informada quase ao mesmo tempo que nós do que tinha e quais eram as perspectivas; e percebeu perfeitamente que tinha uma sentença de morte a curto prazo em cima da cabeça. Jantámos nessa noite com os nossos filhos e começámos, conscientes, uma longa e dolorosa noite das Oliveiras. Às quatro da manhã, vi que ela não estava no quarto e fui procura-la. Estava na casa de jantar, a fumar um cigarro. Perguntou-me se queria também um chá, que ia fazer para ela. E assim ficámos até às seis, a beberricar um chá e a falar da nossa vida. Da nossa vida que tinha sido uma vida boa, mas que não tivera nada a ver com uma boa vida. Tinha sido uma vida difícil, muito rica de riscos e afectos, de grandes amizades e algumas desilusões. E ela agradeceu – e eu com ela – a Deus que nos tinha dado essa vida, e os nossos filhos, e os nossos netos, e toda a família. E os nossos amigos. Todos vós. Depois foi o princípio desta caminhada que acabou na semana passada: ela estava resignada mas, por nós – por mim e pelos filhos - aceitou lutar, com fé em Deus e respeito pelas ciências e artes dos homens. E partimos para Nova Iorque, e depois para Madrid. E tivemos essa longa espera das consultas, dos exames, das análises, dos relatórios, das esperanças alimentadas e perdidas, das histórias dos amigos próximos solidários que vêm com uma casuística de receitas e curas. Partilhamos isto tudo com ela, mas ela – sendo a vítima – foi sempre a mais corajosa e a mais desprendida de todos nós. Ela rezava as suas devoções antes de dormir e eu muitas vezes rezei com ela. Nunca nessas longas semanas pediu a cura; pedia que se fizesse a vontade de Deus. Aceitava pedir pequenas coisas: para ter apetite; para não ter náuseas depois da quimioterapia; para ter ossos e cabeça no dia seguinte, para cumprir as suas obrigações profissionais – e ir ao Parlamento, ir à Renascença, ir ao debate da SIC, aguentar a campanha eleitoral, escrever o artigo para o DN. E estar presente com a sua extrema atenção como mulher, como mãe, como avó, como dona de casa, nas grandes e pequenas tarefas, nas rotinas todas. Ela que era a pessoa mais modesta do mundo e gastava metade do que ganhava nas suas “caridades”. Tinha a sua economia pensada e articulada para a velhice. Com a doença e os tratamentos dizia, solta, a rir e a sorrir - “se duro muito, gasto o que tenho com a doença e depois vais tu ter que me sustentar.” Vivi isto tudo com os nossos filhos – o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e também com a Helena, o Martim e o Tiago. E com as minhas cunhadas Maria João e Sumsum, e com a minha sogra, Maria José. Mais que todos com a Teresinha porque estava na linha da frente, estávamos os dois com a Zézinha em casa e, talvez por isso fomos os que alimentámos mais esperanças. A Teresinha e eu, nesta linha da frente, tínhamos que ser mais esperançosos que os outros. Vigiávamo-nos e ajudávamo-nos, atentos a quando o outro ia a cair. Como dois Cireneus, mas quem levava a Cruz era a Zézinha. Escolheu – ela escolheu e nós seguimo-la – viver habitualmente esta tragédia. Nós às vezes revoltávamo-nos e pensávamos que Deus estava a escrever por linhas tortas, muito tortas. Sentíamo-nos na sua cela da morte, e pedíamos – nós – graça e clemência. Mas ela continuou a aceitar com simplicidade, com modéstia, com aquele seu sorriso que era a coisa mais luminosa do mundo, quase a pedir desculpa por estar doente, por nos preocupar, por nos mudar a vida. Uma ou duas vezes houve episódios positivos, animadores, que quase a perturbaram. A resignação é comovente, mas a esperança – sobretudo nos resignados - ainda é mais. Nela, a esperança guardou-a para outras coisas. Em nós houve sempre esperança quase até ao fim. Acreditamos num Deus que faz milagres, que ressuscita mortos, porque não havia de curar enfermos. Desta vez não curou. Há dez dias, mais ou menos, tudo se precipitou, vieram as más notícias do TAC de avaliação; já nos tínhamos apercebido que tudo estava pior, pois ela perdia mais e mais forças, os olhos perdiam o brilho, a vida ia desaparecendo. E só essa sua coragem e vontade de espírito a mantinham de pé. Conhecia-a há mais de quarenta anos, no dia 12 de Março de 1970. Íamos fazer quarenta anos de casados no próximo mês de Janeiro e ela faria 60 anos em 23 de Março. A vida a dois é uma vida difícil, mas conseguimos chegar juntos até que a morte, nos separou. Foi uma longa vida em que estivemos juntos em tudo o que de importante, bom ou mau, nos aconteceu – ou ao nosso país, ou à nossa família. Mas estes quase cinco meses finais na sua dor e esperança, mais que uma descida para um abismo – que também foram – transformaram-se numa escalada para além da dor, uma subida de um calvário muito particular. Um calvário de alguém que pela fé, pela entrega aos outros, pelo amor aos mais fracos, pela caridade evangélica, acabou por seguir como sempre aspirava, o caminho de Cristo. Sempre sem medo, nem da doença, nem da dor, nem do fim, porque ela acreditava que esse Cristo, esse Senhor era o seu pastor, e que por isso nada lhe faltaria ao atravessar o vale das trevas. Não faltou. Falta-nos ela a nós.
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arquivo,
conversas com a Mãe
02 agosto 2011
If...
Encontrei aqui esta tradução do poema do Kipling:
Se...
Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.
Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.
Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.
De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.
Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!
mas não há nada como ouvi-lo no original:
Se...
Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.
Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.
Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.
De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.
Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!
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