24 março 2013

E assim termino!

Resolvi  pôr um ponto final neste blogue.
E faço-o hoje por ser um dia muito especial.
Faz hoje 11 anos - 24/3/2002
Era Domingo de Ramos como coincidiu este ano.
9 da manhã e o meu telefone que tinha deixado ligado na sala tocou.
Onze anos mais nova, levantei-me de repente - coisa que já não sou capaz de fazer hoje em dia - para atender.
Era de casa da Mãe a senhora que a acompanhava - D. Silvina - dizendo que a Mãe tinha passado uma noite péssima e que era melhor eu ir lá.
Voltei para a cama para dormir mais um bocadinho, na calma daqueles muito habituados a este tipo de chamamento.
Estava a adormecer e novamente o telefone.
Nº privado e uma voz que não conheci a chamar : Ana...oh Ana e a seguir desligaram.
Fiquei intrigada e já não me deitei.
Arranjei-me na calma, fui tomar um café ao Az de Comer, a pastelaria onde a Mãe gostava de tomar o seu cafezinho.
Cheguei a sua casa Mãe e já tinham mandado vir os bombeiros.
Ainda lhe ralhei por isso e perguntei para onde queria ir.
- Para o corredor dum Hospital Civil Mãe????? 
- Não sei filha, não sei...
Falei para a Isabel que estava em Évora e pedi-lhe que falasse para o IPO a saber se a recebiam na urgência.
Convenci os bombeiros a levá-la para lá onde seria mais bem atendida.
E como eles não sabiam o caminho fui à frente no meu carro.
Com tanta sorte que consegui o caminho mais curto que nas múltiplas vezes em que a lá levei nunca tinha conseguido.
Na Praça de Espanha recebi um telefonema da Madalena a dizer:
- Mãe vá à varanda ver-me na Ponte pois vou a correr na maratona.
- Não posso filha, vou com a avó para o hospital.

Fiquei perto de si Mãe enquanto a entubavam, lhe punham oxigénio e uma enfermeira mal jeitosa lhe tirava sangue sem acertar na veia.
Como eu fiz uma cara meio aflita aconselhou-me a sair para o corredor.
Fecharam a porta.
10 minutos depois aparecem duas médicas para falar comigo.
- Fizemos tudo... fizemos tudo o que podíamos...
Incrédula, completamente incrédula só consegui dizer:
- E eu que não lhe dei mimo nenhum...!

A Mãe tinha partido e deixado esta filha aparvalhada no meio daquele corredor sem saber bem o que fazer.

Hoje, dia 24 de Março de 2013, a Marta, a Rita, o Gustavo e o Jorge foram todos correr a maratona. 
É Domingo de Ramos.
E todo o dia chorei por si como chorei faz hoje 11 anos.

Já não tenho mais para escrever.
Contei a sua vida, a minha vida sem si nestes 11 anos e conversei consigo.
Daqui para a frente vai ser a minha vez de ficar mais cansada.
Fica este blogue na internet para lhe dar o mimo que não lhe dei naquele dia.
E fica a pergunta:
Quem me teria telefonado para o meu telemóvel?
Deus? O meu anjo da guarda? Ou foi pura coincidência?
Só sei, que se não fosse aquele telefonema, eu tinha adormecido e a Mãe tinha morrido sozinha com a D. Silvina no corredor de qualquer Hospital Civil e eu teria ficado com remorsos para toda a vida.

Muitos beijinhos minha querida Mãe.
Não se esqueça de estar à minha espera quando eu aí chegar.






FIM




04 março 2013

Releio-me

Hoje, ao fim de uma série de dias de ausência aos blogues, resolvi reler-me.
O que me dava tanta energia para escrever?
O que se passou que me levou a abandoná-los?
Não consigo arranjar resposta.
Ando, como toda a gente neste país, descrente e enfadada.
Não gosto de ouvir as notícias.
Não gosto dos debates da televisão.
Não gostei da demissão do Papa.
Não gostei dos comentários do Bispo Torgal Ferreira sobre o Bispo D. Carlos Azevedo.
As notícias sobre a Europa são más.
Sobre Portugal, são péssimas.
O que querem a maior parte dos jornalistas?
Incitar à revolução?
Para quê?
Para voltarem a pôr lá os mesmos que nos conduziram a esta situação?
Sinto-me diferente da voz corrente.
Mesmo os outros blogues que acompanho não me dizem nada.
Faço zapping rapidamente pelos vários canais e só me entretenho a ver os cozinhados da 1ª temporada do Masterchef Australia e do Avillez e alguns filmes raros pois a escolha é normalmente entre o mau e o muito mau.
Tive, entretanto, uma gripe com febre durante 2 dias que me deixou de gatas durante mais de uma semana.
Hoje, falando com a Isabel e comentando este estado de alma ela dizia-me que é como se estivéssemos em guerra.
Uma guerra sem armas, sem vencedores nem vencidos.
É capaz de ter razão.
Estamos numa época de grandes incertezas e sem grandes esperanças no futuro.
Tive sorte na época em que nasci e cresci.
Os valores eram firmes, sabíamos com o que podíamos contar e que o ano seguinte ia ser pelo menos igual ou melhor que o anterior.
Agora não sabemos nada.
Será isto a velhice?
Hoje, por acaso, li duas coisas com que concordo:
Uma foi a resposta do Belmiro de Azevedo aos jornalistas: "Não ligo nada a isso!" quando questionado sobre a manifestação de sábado passado.(aqui)
Outra foi a resposta que a Helena Sacadura Cabral tem engatilhada para quando lhe perguntarem sobre a "Grândola: "olhe nem sei o que lhe diga. Gosto muito da Grândola, mas tem que ser bem ensaiada. Talvez optasse pelo hino nacional. Sempre era mais patriótico e abrangente".(aqui)