29 novembro 2010

Provérbio (1)

"Quem parte leva saudades, quem fica saudades tem."

26 novembro 2010

Tenho tanta coisa para lhe contar...

Mãe:

Desde que nos deixou aconteceu tanta coisa na nossa família que nem sei por onde começar...

Umas óptimas:
- casamentos,
- nascimento de mais 25 bisnetos seus(eram 16 e agora são 41),
- baptizados,
- os Natais que continuamos a ir sempre passar a casa do Pedro,
- os almoços em São Bento onde somos tantos que nem já nos conhecemos bem uns aos outros,
- viagens que os mais afortunados têm feito,
- a nossa casa da Barcoiça.

Tanta, tanta coisa boa que Deus nos tem dado....


Outras menos boas:

- separações de alguns dos seus netos...
- A venda que todos fizemos da quinta ao João que foi bom e mau ao mesmo tempo.
Foi bom porque ele pôde arranjá-la e fazer com o gosto da Nena uma casa muito confortável que o João ainda gozou e que toda a família dele tem aproveitado para estarem juntos.
Foi mau pelas saudades que temos daquele bocadinho tão importante da nossa infância...


Outras muito tristes:

- a doença do nosso querido João, o vazio que nos deixou, a tristeza de já só sermos três daquele ramalhete dos seus cinco filhinhos. 
Como eu gostaria de escrever  tanta coisa sobre ele mas que não tenho a ousadia, nem os elementos suficientes para o fazer.
Ainda ele estava com saúde, depois de escrever o livro da Mãe, um dia eu disse-lhe que gostava de escrever um livro sobre a vida dele e perguntei-lhe se me dava umas entrevistas e ele respondeu-me: "ó filha, já me queres matar?.... "

- e outras também muito tristes mas que não lhe vou contar por escrito.

Conto-lhas um dia em segredo.....


Vou contando tudo devagarinho, ao mesmo tempo que lhe vou dando notícias do que por cá se passa neste nosso Portugal.
Vou escrevendo e é isto o bom dos blogs, conforme me apetece e o "mood" de cada dia... Hoje deu-me para a pieguice, amanhã se calhar, para outra qualquer disposição.


Não há nenhum dia que não me lembre de si.
A Mãe, desde que se foi embora é o meu anjo da guarda.
Falo consigo sobre tudo e sobre nada.
E, mesmo assim, senti a necessidade de escrever este blog.
Tão grande era o laço que nos unia....


Muitos beijinhos Mãe

25 novembro 2010

Ó sino da minha aldeia

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.


Fernando Pessoa, 05/08/1921 (Athena, vol. I, nº 3, Dezembro de 1924)


Mãe:

Outro dia, ao ouvir um destes programas de televisão que não me lembra o nome, estava uma brasileira a explicar que quem tem problemas de insónia, deve refugiar-se no seu "mantra".

E o "mantra" segundo ela explicava, é uma recordação boa que aconchegue, onde nos sintamos bem, protegidos, seguros.

Dei comigo a reflectir qual era esse lugar...

E lembrei-me Mãe do sítio onde eu me sentia tão bem... Em nossa casa, na Covilhã, na cama, naquelas manhãs frias da nossa terra, a ouvir o toque do sino de São Tiago, com o barulho da casa como pano de fundo e uma preguiça doida para me levantar, pois eram horas de ir para o colégio.

Agora, quando tenho insónias é esse aconchego que procuro recordar e sinto-me tão relaxada e em conforto que normalmente adormeço.

É o sino da minha aldeia!!!!!!!!!!!!

23 novembro 2010

O euro

Mãe

Lembra-se da confusão que lhe fizeram as moedas e notas de euro?
A Mãe já estava muito cansada e a sua vida era passada entre a cama e o sofá encarnado onde ouvia a Sic notícias em altos berros, mas sempre e até ao último dia, com a preocupação de estar a par do que se passava no País e no mundo.
Além disto o único controle que tinha sobre a sua vida era fazer as contas do supermercado e verificar o troco que a sua empregada Isabel lhe trazia.
Eu, para lhe facilitar a vida já tomava conta das suas finanças e a Isabel (mana) punha em caixinhas os comprimidos que a Mãe devia tomar de manhã, à tarde e à noite.
Quando chegou o euro, foi a confusão total.
Por mais que eu lhe explicasse a correspondência nunca conseguiu perceber e acabei por lhe dizer que eu passava a fazer as contas do supermercado.
Acho que fiz mal.
Era uma coisa que a fazia sentir-se ainda com algum controle e esta circunstância fê-la esmorecer muito.
Só durou 3 meses, infelizmente esta confusão....

Mãe, o nosso euro está em perigo.
Estávamos todos convencidos que ao termos a mesma moeda que os alemães íamos viver com o mesmo nível deles. 
O País endividou-se desmesuradamente, as famílias com os juros baixos começaram todas a investir em imobiliário e cerca de 76% das famílias vivem em casas próprias.
Com a certeza que tinham de que a educação era gratuita, a saúde gratuita e a reforma garantida as famílias deixaram de poupar.
Houve um desinvestimento total em bens transacionáveis no País.
Muitas fábricas fecharam e desinvestiu-se na agricultura.
As importações de bens de consumo aumentaram e as exportações diminuiram.
Ainda por cima, a natalidade diminuiu e a esperança de vida aumentou o que contribui enormemente para a falência da segurança social.
A crise financeira que ocorreu nos bancos dos Estados Unidos no fim de 2008, contagiou toda a Europa e Portugal está neste momento à beira da bancarrota.
O desemprego é o mais alto de sempre em Portugal: 10,4% da população não tem emprego.
Além da pobreza que existia há uma nova pobreza, a das pessoas que ficam sem emprego e sem grandes hipóteses de o arranjar.
Estamos todos muito preocupados com a situação do nosso País.
Fala-se que a Alemanha pode sair do euro, o que seria uma catástrofe, ou que Portugal pode ser expulso.

Se calhar a Mãe tinha razão ao não perceber nada daquilo.

O País não estava, talvez, preparado para aderir à moeda única com os problemas estruturais que tinha e continua a ter...


22 novembro 2010

A morte é a curva da estrada


A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

Fernando Pessoa

13 novembro 2010

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.


Carlos Drummond de Andrade, in "Lição de Coisas"

02 novembro 2010

Retirei o Anexo

Como era uma das características da Mãe lembrar-se sempre dos aniversários de toda a gente, o livro tinha uma anexo com um calendário dos anos de cada um.

Já estava um bocado desactualizado e feito num formato no qual eu não me entendo agora.

Por isso resolvi retirá-lo.

Como a maior parte de vocês está no Facebook e aí é fácil contactarmos uns com os outros eu, que tenho uma agenda bem organizada, vou lá pondo quem faz anos.

01 novembro 2010

Razão do Blog

   Este livro sobre a minha Mãe foi começado a escrever logo a seguir à sua morte e feita uma edição reduzida de apenas 50 exemplares que foram distribuidos aos meus irmãos e sobrinhos num lançamento que fiz na Barcoiça no dia em que festejei os meus 60 anos.

   Quando a Mãe morreu tinha 16 bisnetos. Neste momento são  41 e como não há livros suficientes para dar a todos e o blog é uma maneira de ficar na internet ao dispôr de todos os que o quizerem ler resolvi pô-lo "online"

   Fiz este trabalho em 2 dias para que ficasse pronto antes do dia 1 e 2 de Novembro dias de Todos os Santos e dos fiéis defuntos e assim lhe prestar mais esta homenagem.

   Já passaram 8 anos desde que a Mãe partiu e a nossa família sofreu grandes modificações.

   Faz cá muita falta minha querida Mãe.

   Não há dia nenhum destes anos que passaram que eu não fale consigo, que não lhe reze, que não pense em si.

   Talvez eu aproveite este espaço para lhe contar o que se tem passado com a nossa família e com o nosso País.

   Gostava que os meus sobrinhos que não escreveram nada quando ela morreu, que ainda vão a tempo e que se quizerem podem sempre escrever qualquer coisa.

    É só mandarem-me que eu publico.