07 setembro 2011
Livro
Uma entrevista na televisão a José Luis Peixoto, que apareceu cheio de "piercings" nas orelhas e que levaram o Jorge a sair logo da sala e a dizer que deste "gajo" não ouvia nada...
Eu, ouvi toda a entrevista e fiquei impressionada pela personagem, com aquela indumentária toda preta, botas da tropa e cheio dos referidos "apêndices" nas orelhas e não só...
Despertou-me a atenção o seu olhar doce e profundo que contrastava com o aspecto exterior.
Percebi que viveu, ou ouviu falar aos seus pais, dificuldades no Portugal dos anos 40-60 e que, talvez por isso, se situa politicamente à esquerda, onde tendem a acoitar-se aqueles que pensam que o socialismo - tirando a poucos para distribuir por muitos, ficando todos mal - é solução para alguma sociedade mais justa e fraterna.
Resolvi desempacotar o "Livro" que tinha comprado para oferecer no Natal e que esteve todo este tempo arrumado, embrulhado no papel de presente.
Conta a história de Adelaide e Ilídio (talvez seus Pais) na sua vivência numa vilória que ele não identifica mas que deve ser as Galveias terra onde JLP nasceu.
Conta a odisseia da sua "viagem" para "a França", onde fizeram a sua vida, só voltando à terra em Agosto, nas "vacanças", com as mãos cheias de notas, para construirem as maravilhosas "maisons estilo fenêtres", que abundam pelo nosso País.
Na 2ª parte do livro, após a abrilada, parece que o autor resolveu mudar o tom e entra em contacto directo com o leitor, parecendo muitas vezes que nos está a gozar.
Também eu, como os pais do escritor, cresci no Portugal dos anos 40-60.
Vivi alheada da realidade que ele descreve, pois pertencia a uma burguesia da classe média, a quem as descrições presentes neste livro, não emocionam nem dizem grande coisa.
Não éramos ricos.
O meu Pai, médico na província, conseguia com apenas o seu ordenado, pois a Mãe não trabalhava, manter uma casa com 5 filhos, um avô e 3 criadas e pôr os filhos todos a estudar fora, em colégios particulares.
Já nós, eu e o Jorge, nos anos 70 - 90, tivemos que trabalhar os dois, para dar às nossas filhas menos do que tínhamos recebido: uma casa pior, menos empregadas, menos viagens e vida em sociedade, menos festas e férias.
As minhas filhas, vêm-se aflitas para conseguir ter o número de filhos que gostariam e baixaram ainda mais o nível de vida.
Ou seja: as "amplas liberdades" tão apregoadas no 25 de Abril só vieram destruir a classe média.
Lembro-me, quando era pequena, de ver miúdos de pé descalço, de ver pobreza, mas não me lembro de ver miséria como a que se vê nas ruas de Lisboa, com gente a dormir no chão, arrumadores drogados com aspecto doente e desgraçado e bairros sociais ao redor das grandes cidades, centros de droga e delinquência.
A descrição de Peixoto é sórdida, chocante e por vezes mesmo nojenta.
É difícil apreciar o livro e o pensamento de alguém que se encontra e tem uma visão da vida e do mundo, nos antípodas do meu.
Consegui lê-lo todo, mas ficou-me no final uma sensação física de enjôo.
Encontrei na internet 4 críticas a este "Livro":
http://aminhaestante.blogspot.com/2010/10/livro-jose-luis-peixoto.html
http://queroumlivro.blogspot.com/2011/01/livro-jose-luis-peixoto_07.html
http://oprazerdeler.blogs.sapo.pt/28389.html
http://ilicito.net/2011/01/livro-jose-luis-peixoto/
Bem diferentes da minha, claro!!!!
Nota: Este post foi escrito num bloco que passou a andar sempre comigo enquanto esperava pela consulta do Lucas - 2 horas à espera...É giro escrever à mão. ´
Só escrevo à mão os recados para a Avelina e a assinatura no cheque que passo uma vez por mês.
A minha letra está um horror...!!!
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