30 dezembro 2010

Madalena

Hoje faz 32 anos o meu benjamim.

Lembra-se, Mãe da minha angústia quando ela nasceu?

Estava sem empregada, tinha as outras duas muito pequeninas, apetecia-me tudo menos tratar dum bébé...

Ela, coitadinha, parece que se apercebeu logo que o melhor que tinha a fazer era  não incomodar e nasceu a chuchar no dedo.
Chuchava quando tinha fome ou sono ou quando as irmãs lhe davam algum encontrão no berço.

Passou os primeiros meses sem me dar o mínimo trabalho.

Dava-lhe banho à meia noite já depois das outras estarem a dormir e quando a casa estava serena.

Acabei por gozar este bébé muito mais do que gozei as outras pois estava mais calma, não tinha medo, como com as outras,de tratar dela e acabou por ser tudo muito fácil.

Começou a crescer e a ocupar o seu lugar e de tal maneira lutou por ele que passou a ser a mais interventiva nas discussões, a mais opinativa, a que queria estar sempre a contar tudo e nada nem deixando muitas vezes falar as irmãs.

Hoje em dia é uma grande amiga que eu tenho!
Lembro-me agora imenso de a Mãe nos dizer: É tão bom ter filhas crescidas!!!!
É uma boa profissional, tem um marido de quem todos gostamos muito, o nosso querido F. e tem uns filhos a quem a Mãe havia de achar a maior das graças: o Z. que é um miúdo especialíssimo e o A. que é ruivo, Mãe como o nosso querido Pi de quem tenho tantas saudades.



29 dezembro 2010

Zita Seabra

Já é a terceira pessoa minha amiga que me manda para o meu e-mail um forward com este artigo de opinião.

A Zita Seabra que agora pertence ao PSD já foi do PCP e tem uma maneira de pensar com a qual não me identifico minimamente.

Não gosto do que escreve, não gosto do que diz e não gosto do que pensa.

Deste artigo emana ódio, inveja, mesquinhez e outros sentimentos que desprezo profundamente.

É evidente que não concordo com a notícia dada pela RTP mas também não concordo  "que os ricos em Portugal, os que recebem prémios de milhões em empresas públicas e ordenados escandalosos e que puseram o mundo e o país como se vê, são os mesmos com a mesma mentalidade salazarenta. "

Admira-me como é que as pessoas com um determinado nível não lêem com atenção as mensagens antes de fazer um forward.

Já não é a primeira vez que isto acontece.

O caminho que lhes dou é evidentemente o caixote do lixo...

Conversas de cabeleireiro

Lembro-me imenso que a Mãe nos seus propósitos diários e nas suas orações se comprometia a não dar nas vistas, a ouvir os outros, a fazer o possível por ser mais recatada no que dizia e não querer estar na crista da onda...

Eu sofro do mesmo mal.

Todos os dias me comprometo a não ser indiscreta, a falar menos, a não contar a minha vida a toda a gente, a não ser desbocada...

Cada um nasce como nasce e por mais que tente acaba sempre por fazer as mesmas asneiras.

Arranjei um sarilho enorme no cabeleireiro onde costumo ir.

Houve uma delas que me contou que outra tinha metido os papéis para a reforma, mas disse-mo baixinho.

Logo que estive com a outra fui-lhe logo perguntar quando é que ela se ia reformar e reparei que ela ficou um bocado embatucada.

Não contente com isso hoje voltei a perguntar a mesma coisa e ela respondeu-me que não percebia a minha pergunta pois não tinha falado sobre o assunto com nenhuma cliente e perguntou-me quem me tinha dito.
Disse-lhe logo: foi a Paula! Mal lhe disse já estava arrependida...

A dita Paula veio quando eu saí dizer-me que eu não devia ter perguntado nada pois era sigilo e que tinham estado todas a comentar quem me teria dito... Mal ela sabe que até isso eu tinha contado...

Tudo para fazer conversa e para me armar em íntima.

Que mania a minha de falar demais...

Tenho impressão que não posso voltar lá pois a estas horas devem andar as duas à bulha

26 dezembro 2010

Ainda o Natal

"Mas é inegável que, Deus para uns ou mero homem para outros, o mandamento único que nos legou, amai-vos uns aos outros, despertou consciências e abriu corações, tornando a humanidade irreversivelmente melhor."


4R - Quarta República: Boas-Festas de Natal

Baptizado da Luisa

Depois de um Natal afadigado ainda fomos hoje baptizar a Luisa.
Tinham que aproveitar a estadia cá em Portugal do Kiko que veio passar o Natal.
Pois é Mãe, esta é a filha do seu querido neto Kiko que tirou um mestrado nos Estados Unidos em Harvard em Administração Pública e agora é um importante elemento do Banco Mundial, vive em Washington e anda sempre a percorrer o mundo em grandes projectos para ajuda aos Países necessitados e para bem da humanidade.
Que orgulho a Mãe teria neste seu neto....

A pequenina está um amor e é uma mistura da Isabel com a Mãe (Rita) e com o Pai (Kiko).
Foi na Igreja da Pena que é de uma beleza enorme,

Construída no início do século XVIII, o seu altar mor de talha, de Claude Laprade, constitui o primeiro grande retábulo da época joanina. António Lobo é o autor da pintura do tecto, em perspectiva arquitectónica, que foi refeito por Luis Baptista, após os estragos sofridos em 1755. Possui pinturas de Pedro Alexandrino - OPRURB


A missa foi acompanhada à viola pelo Zé B. Ramos marido da Mariana e cantaram as duas Marianas C. e a Isabelinha.

Não tirei nenhuma fotografia do baptizado mas tirei depois à vista do Hotel do Chiado onde foi o cocktail.


Parabéns à Luisinha que já recebeu o seu baptismo e aos Pais e Avós.

25 dezembro 2010

Noite de música

Nesta noite de Natal deixo aqui os três tenores.


24 dezembro 2010

Natal 2010

Este ano temos uma grande tristeza a ensombrar o nosso Natal.

Vamos estar todos juntos a festejar os anos da Rita em casa do nosso querido Pedro, mas sem ele, sem a Mãe, sem o João, sem o Pai e com esta sombra negra de um membro da família em tão difícil condição.

O que nos vale são as crianças, cada vez mais, cada vez mais bonitos e alegres.

A infância é o melhor tempo que se passa neste mundo.

É por eles e com eles que conseguimos andar para a frente e esquecer a dor aqui e ali, tanto física, como moral.

Sinto muitas vezes que já fiz o caminho e a função e que já podia ir para perto de si....e a única coisa que me mantém com genica para continuar, é pensar que ainda posso ser útil às minhas filhas.

Deus permita que quando já não conseguir ajudá-las me vá embora e não seja para elas um fardo.

Estive agora a falar com a Nazária e fiquei amargurada com aquele calvário que eles estão a passar... Porque é que custa tanto a alguns a morrer?

O estado do País também não nos ajuda nada a ter esperança no futuro. Vejo estes nossos bébés todos e quando olho para eles não posso deixar de pensar e de ficar apreensiva com o que será a sua vida.

Hoje que devia ser de festa estou aqui com estas lamúrias.

Um estado depressivo parvo e sem sentido.

"Moods"...

Se a Mãe estiver no Céu dê lá um beijinho de parabéns ao Menino Jesus e peça-lhe ajuda para a enorme família que cá deixou.



03 dezembro 2010

Quadratura do circulo

Ontem estive a ver este programa e gostei imenso de ouvir o Pacheco Pereira explicar com todas as letras o que pretende o Bloco de Esquerda e o partido comunista.

É pena que isto não seja explicado mais veementemente e por maior número de pessoas. Eles aproveitam a pobreza cada vez maior das pessoas para fingirem que são muito bonzinhos e que iriam resolver o problema dos mais pobres.

É uma total mistificação.

Todos (ou pelo menos alguns) sabemos o que eles pretendem. Acabar com a economia de mercado, fechar as fronteiras, nacionalizar as grandes empresas e os bancos e depois....voltarmos ao PREC.

"Com papas e bolos se enganam os tolos" lá diz o provérbio.

Não percebo, como é que pessoas que se diz serem inteligentes, acreditam nas utopias que defendem.

A seguir vi um filme que já tinha visto há bastante tempo mas que me prendeu até quase às 2 da manhã: os condenados de Shawshank. Impressionante e muito bom.

Escusado será dizer que tive uma insónia.

Beijinhos

29 novembro 2010

Provérbio (1)

"Quem parte leva saudades, quem fica saudades tem."

26 novembro 2010

Tenho tanta coisa para lhe contar...

Mãe:

Desde que nos deixou aconteceu tanta coisa na nossa família que nem sei por onde começar...

Umas óptimas:
- casamentos,
- nascimento de mais 25 bisnetos seus(eram 16 e agora são 41),
- baptizados,
- os Natais que continuamos a ir sempre passar a casa do Pedro,
- os almoços em São Bento onde somos tantos que nem já nos conhecemos bem uns aos outros,
- viagens que os mais afortunados têm feito,
- a nossa casa da Barcoiça.

Tanta, tanta coisa boa que Deus nos tem dado....


Outras menos boas:

- separações de alguns dos seus netos...
- A venda que todos fizemos da quinta ao João que foi bom e mau ao mesmo tempo.
Foi bom porque ele pôde arranjá-la e fazer com o gosto da Nena uma casa muito confortável que o João ainda gozou e que toda a família dele tem aproveitado para estarem juntos.
Foi mau pelas saudades que temos daquele bocadinho tão importante da nossa infância...


Outras muito tristes:

- a doença do nosso querido João, o vazio que nos deixou, a tristeza de já só sermos três daquele ramalhete dos seus cinco filhinhos. 
Como eu gostaria de escrever  tanta coisa sobre ele mas que não tenho a ousadia, nem os elementos suficientes para o fazer.
Ainda ele estava com saúde, depois de escrever o livro da Mãe, um dia eu disse-lhe que gostava de escrever um livro sobre a vida dele e perguntei-lhe se me dava umas entrevistas e ele respondeu-me: "ó filha, já me queres matar?.... "

- e outras também muito tristes mas que não lhe vou contar por escrito.

Conto-lhas um dia em segredo.....


Vou contando tudo devagarinho, ao mesmo tempo que lhe vou dando notícias do que por cá se passa neste nosso Portugal.
Vou escrevendo e é isto o bom dos blogs, conforme me apetece e o "mood" de cada dia... Hoje deu-me para a pieguice, amanhã se calhar, para outra qualquer disposição.


Não há nenhum dia que não me lembre de si.
A Mãe, desde que se foi embora é o meu anjo da guarda.
Falo consigo sobre tudo e sobre nada.
E, mesmo assim, senti a necessidade de escrever este blog.
Tão grande era o laço que nos unia....


Muitos beijinhos Mãe

25 novembro 2010

Ó sino da minha aldeia

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.


Fernando Pessoa, 05/08/1921 (Athena, vol. I, nº 3, Dezembro de 1924)


Mãe:

Outro dia, ao ouvir um destes programas de televisão que não me lembra o nome, estava uma brasileira a explicar que quem tem problemas de insónia, deve refugiar-se no seu "mantra".

E o "mantra" segundo ela explicava, é uma recordação boa que aconchegue, onde nos sintamos bem, protegidos, seguros.

Dei comigo a reflectir qual era esse lugar...

E lembrei-me Mãe do sítio onde eu me sentia tão bem... Em nossa casa, na Covilhã, na cama, naquelas manhãs frias da nossa terra, a ouvir o toque do sino de São Tiago, com o barulho da casa como pano de fundo e uma preguiça doida para me levantar, pois eram horas de ir para o colégio.

Agora, quando tenho insónias é esse aconchego que procuro recordar e sinto-me tão relaxada e em conforto que normalmente adormeço.

É o sino da minha aldeia!!!!!!!!!!!!

23 novembro 2010

O euro

Mãe

Lembra-se da confusão que lhe fizeram as moedas e notas de euro?
A Mãe já estava muito cansada e a sua vida era passada entre a cama e o sofá encarnado onde ouvia a Sic notícias em altos berros, mas sempre e até ao último dia, com a preocupação de estar a par do que se passava no País e no mundo.
Além disto o único controle que tinha sobre a sua vida era fazer as contas do supermercado e verificar o troco que a sua empregada Isabel lhe trazia.
Eu, para lhe facilitar a vida já tomava conta das suas finanças e a Isabel (mana) punha em caixinhas os comprimidos que a Mãe devia tomar de manhã, à tarde e à noite.
Quando chegou o euro, foi a confusão total.
Por mais que eu lhe explicasse a correspondência nunca conseguiu perceber e acabei por lhe dizer que eu passava a fazer as contas do supermercado.
Acho que fiz mal.
Era uma coisa que a fazia sentir-se ainda com algum controle e esta circunstância fê-la esmorecer muito.
Só durou 3 meses, infelizmente esta confusão....

Mãe, o nosso euro está em perigo.
Estávamos todos convencidos que ao termos a mesma moeda que os alemães íamos viver com o mesmo nível deles. 
O País endividou-se desmesuradamente, as famílias com os juros baixos começaram todas a investir em imobiliário e cerca de 76% das famílias vivem em casas próprias.
Com a certeza que tinham de que a educação era gratuita, a saúde gratuita e a reforma garantida as famílias deixaram de poupar.
Houve um desinvestimento total em bens transacionáveis no País.
Muitas fábricas fecharam e desinvestiu-se na agricultura.
As importações de bens de consumo aumentaram e as exportações diminuiram.
Ainda por cima, a natalidade diminuiu e a esperança de vida aumentou o que contribui enormemente para a falência da segurança social.
A crise financeira que ocorreu nos bancos dos Estados Unidos no fim de 2008, contagiou toda a Europa e Portugal está neste momento à beira da bancarrota.
O desemprego é o mais alto de sempre em Portugal: 10,4% da população não tem emprego.
Além da pobreza que existia há uma nova pobreza, a das pessoas que ficam sem emprego e sem grandes hipóteses de o arranjar.
Estamos todos muito preocupados com a situação do nosso País.
Fala-se que a Alemanha pode sair do euro, o que seria uma catástrofe, ou que Portugal pode ser expulso.

Se calhar a Mãe tinha razão ao não perceber nada daquilo.

O País não estava, talvez, preparado para aderir à moeda única com os problemas estruturais que tinha e continua a ter...


22 novembro 2010

A morte é a curva da estrada


A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

Fernando Pessoa

13 novembro 2010

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.


Carlos Drummond de Andrade, in "Lição de Coisas"

02 novembro 2010

Retirei o Anexo

Como era uma das características da Mãe lembrar-se sempre dos aniversários de toda a gente, o livro tinha uma anexo com um calendário dos anos de cada um.

Já estava um bocado desactualizado e feito num formato no qual eu não me entendo agora.

Por isso resolvi retirá-lo.

Como a maior parte de vocês está no Facebook e aí é fácil contactarmos uns com os outros eu, que tenho uma agenda bem organizada, vou lá pondo quem faz anos.

01 novembro 2010

Razão do Blog

   Este livro sobre a minha Mãe foi começado a escrever logo a seguir à sua morte e feita uma edição reduzida de apenas 50 exemplares que foram distribuidos aos meus irmãos e sobrinhos num lançamento que fiz na Barcoiça no dia em que festejei os meus 60 anos.

   Quando a Mãe morreu tinha 16 bisnetos. Neste momento são  41 e como não há livros suficientes para dar a todos e o blog é uma maneira de ficar na internet ao dispôr de todos os que o quizerem ler resolvi pô-lo "online"

   Fiz este trabalho em 2 dias para que ficasse pronto antes do dia 1 e 2 de Novembro dias de Todos os Santos e dos fiéis defuntos e assim lhe prestar mais esta homenagem.

   Já passaram 8 anos desde que a Mãe partiu e a nossa família sofreu grandes modificações.

   Faz cá muita falta minha querida Mãe.

   Não há dia nenhum destes anos que passaram que eu não fale consigo, que não lhe reze, que não pense em si.

   Talvez eu aproveite este espaço para lhe contar o que se tem passado com a nossa família e com o nosso País.

   Gostava que os meus sobrinhos que não escreveram nada quando ela morreu, que ainda vão a tempo e que se quizerem podem sempre escrever qualquer coisa.

    É só mandarem-me que eu publico.

31 outubro 2010

1 - Introdução

Nos últimos anos, todos nós fomos pedindo à Mãe Maria da Luz, para escrever ou ditar ou falar para um gravador a história da sua vida e relatos sobre a sua infância e juventude e sobre as pessoas da Covilhã que só ela sabia...

A Tété, sua neta, foi a que mais a massacrou com isso, ofereceu-lhe vários cadernos, um gravador, mas ela nos seus oitenta e tal anos já não se sentia capaz e apenas deixou escritos uns gatafunhos que ninguém percebe.

Porque penso que a vida da Mãe não pode ficar apenas na memória dos seus filhos e de alguns dos seus netos e porque gostaria que todos os seus netos e bisnetos ficassem com a história desta Grande Mulher que nos marcou a todos tanto, resolvi tentar escrever o que me lembro da sua vida e de factos a que assisti e das histórias que nos foi contando...

Este livro consta de duas partes: a primeira parte é escrita por mim sua filha mais velha – Ana Maria com a ajuda na montagem das fotografias da Madalena minha filha e da Mariana minha sobrinha; a segunda, parte é o conjunto de testemunhos, escritos, cartas, etc. que consegui recolher dos seus outros filhos, netos, bisnetos, outros familiares e amigos.

A capa é da autoria da minha filha Marta.

2 - Nascimento e Infância

No dia 6 de Março de 1914, nasceu no 2º andar do prédio da pastelaria Lisbonense, na Praça do Pelourinho da Covilhã (agora chamada Praça do Município) a primeira filha de Ana de Jesus Matos Morais (a Avó Matos) e de António dos Santos Morais (o Avô Morais).
Era neta materna de Manuel Jerónimo de Matos (bisavô Matos) de 49 anos de idade, natural da Covilhã e de Teresa de Jesus Rebelo e neta paterna de José Maria de Oliveira Moraes, natural da Covilhã e de Rosa dos Santos, nascida em Chaves.


A terra onde nasceu


As primeiras notícias da Covilhã remontam ao tempo dos romanos.
Crê-se que a percursora da Covilhã foi a povoação Silia Ermia ou Silia Elmminia, (também chamada de Cova Julia) fundada por Silius, general de César, durante o domínio romano na Lusitânia, mais concretamente na Ladeira de “Matir in Colo”.
A importância da cidade fica marcada quando, em 1764, o Marquês de Pombal aí instala a Real Fábrica dos Panos.
Este impulso dado à manufactura da lã, terá a sua continuidade no séc. XIX, durante o qual, se instalam na Covilhã muitas fábricas de lanifícios, que lhe valeram o nome de “Manchester Portuguesa”.
Desde D. Sancho I até D. Carlos, a Covilhã foi sendo sempre alvo do interesse do reino e a 12 de Setembro de 1889, no Diário de Notícias, podia ler-se: “A Covilhã é um fenómeno do trabalho nacional. É uma lição, é um incitamento”.
De facto, no início do séc. XX, a Covilhã era uma das cidades portuguesas mais importantes quer em termos populacionais quer, sobretudo, em termos económicos.
 Em 1911 a Covilhã era a oitava cidade portuguesa em número de habitantes, com 15 469.



O Pelourinho em 1915

                                          
                                                                                                   
Geograficamente, a Covilhã é a cidade mais central da Região Centro. Situada na Beira Baixa, é a segunda cidade do distrito de Castelo Branco e sede do Concelho da Covilhã.
Cidade industrial por excelência, a sua população era considerada a menos provinciana de toda a Região e a mais virada para o exterior.
Nos anos 70 a cidade sofreu a decadência da indústria têxtil, com a concorrência de outras regiões e o conceito de “Cidade fábrica” está neste momento ultrapassado.
A Covilhã, cidade do interior, “vive” hoje em dia fundamentalmente da sua Universidade (Universidade da Beira Interior criada em 1986) e do Turismo da Serra da Estrela.


O mundo que encontrou

Para situar o seu nascimento na vida política e social da época, consultei o n.º 54 do jornal publicado na altura a nível nacional: “Jornal de Notícias” cujo Director era Annibal de Moraes.
Dia 6 de Março de 1914 era uma sexta-feira.

As notícias dizem respeito, fundamentalmente, ao estado de sítio decretado no Rio de Janeiro e noutras cidades do Brasil, e algumas notícias de França e de Inglaterra como esta:

“Um petardo n’uma egreja
  Obra das suffragistas

N’uma destas noites rebentou uma bomba na egreja de S. João Evangelista, em Londres, causando consideráveis estragos nas portas e vidraças, que eram de grande valor artístico.
A força da explosão foi tamanha que alguns bancos que havia ao centro da egreja foram arremessados a mais de 15 metros de distancia.
Suspeita-se que tenha sido obra das suffragistas”.

De Portugal, apenas um “Boletim Elegante” que dá conta dos aniversários de pessoas da sociedade do Porto, dos novos hóspedes dos Hotéis da cidade (Grande Hotel do Porto, Nacional e Peninsularl) , de quem se encontra “incommodado de saúde”, várias anedotas e esta Gazetilha:

“O actual presidente do governo, depois de ter jantado com um diplomata brasileiro, foi com elle assistir ao espectáculo no Theatro da República, onde o Sr. Bernardino Machado se viu magnificamente caricaturado, pelo actor Henrique Alves, na revista “Tango Cordeal” (Notícia telegraphica de Lisboa)

Esta notícia, leitor,
não diz quanto se passou
e foi isto, quando entrou
o actor supracitado,
o Bernardino ao ver
em scena a sua figura,
fez-lhe, com larga mesura,
um cumprimento rasgado.

E depois, a certa altura,
encaixou, a toda a pressa,
o seu chapéu na cabeça,
que foi um ar que lhe deu;
pois o Bernardino teve
a ideia d’aproveitar
o ensejo de tirar
a si próprio o seu chapéu.

Através de pesquisa na Internet, encontrei como factos mais importantes ocorridos em Portugal e no mundo neste ano de 1914 os seguintes:

9 de Fevereiro – O governo chefiado por Bernardino Machado toma posse, tentando ser um governo de salvação nacional.
28 de Junho – O arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do imperador austro-húngaro Francisco José, é assassinado em Sarajevo, capital da província da Bósnia-Herzegovina, por revolucionários sérvios.
Discute-se no Parlamento português o orçamento do Ministério da Guerra. O Ministro confidencia a um dos deputados, sobre o que o exército tinha ou não tinha, para assegurar a segurança nacional: “Não digo que tem pouco, digo que não tem nada”.
28 de Julho – A Austria-Hungria declara guerra à Sérvia. A Rússia dá início à mobilização geral.
1 de Agosto – A Alemanha declara guerra à Rússia. A França declara a mobilização geral dos seus exércitos.
3 de Agosto – A Alemanha declara guerra à França e invade o Luxemburgo e a Bélgica.
O governo britânico entrega uma carta ao embaixador de Portugal em Londres, instando junto do “Governo português para se abster, por agora, de publicar qualquer declaração de neutralidade”.
Uma multidão junta-se à porta do Banco de Portugal para trocar as notas por metal, provocando uma crise financeira temporária.
4 de Agosto – Deflagra a 1ª Grande Guerra Mundial em que Portugal entrou para defender as suas colónias de Angola e Moçambique, atacadas pelos alemães.
Esta Guerra só terminaria em28 de Junho de 1918.





A sua família e o ambiente em que cresceu


Seu Avô materno

Manuel Jerónimo de Matos era filho de gente humilde.
Seu Pai era tecelão na fábrica da família Campos Mello.
Com apenas doze anos de idade, Manuel começou também a trabalhar na mesma fábrica, como operário tecelão, mas continuou a ir à escola aprendendo a ler e a escrever.
Como era esperto e trabalhador, depressa deu nas vistas e começou a ser chamado para funções de maior responsabilidade.
Conseguiu sociedade na fábrica e mais tarde instalou-se por conta própria e transformou-se num dos maiores industriais da Covilhã.
Foi um “self made man”.
Iniciou na Covilhã o envio de mercadorias para os diversos pontos do País, contra reembolso, o que na época, foi considerado um enorme avanço e próprio de um homem com uma grande visão e intuição para os negócios.
Dizia, nessa altura, a amigos seus que tinha um lucro de 1000$00 por dia (o que era uma fortuna...).
Era um homem não muito alto, muito simpático e apesar das suas raízes humildes, transformou-se num “grand seigneur” e no fim da vida era uma pessoa que sabia apreciar a vida requintada.



Dava-se com gente da alta sociedade. Quando ia a Lisboa, instalava-se no Hotel Palácio do Estoril e jogava às cartas com grandes homens de negócios, com os quais era capaz de discutir qualquer assunto.
Em casa, só comia com “talheres de prata aquecidos....” Isto foi-nos contado várias vezes quando éramos pequenos, para nosso grande deslumbramento....



Tinha uma enorme admiração pela mulher do seu primeiro patrão – D. Maria da Luz de Campos Mello – que o tratou em pequeno e enquanto seu empregado, com muita simpatia e humanidade e à qual ele associava a ideia de “pessoa de grande classe”.
Assim, foi ele que sugeriu à filha Ana que pusesse à neta, o nome de Maria da Luz.  

Baptizado




E, na verdade, foi inspirado pois eu penso que este nome marcou a minha Mãe.
Não podia chamar-se de outra maneira.
Ele fazia parte da sua força, da sua maneira de ser, da grande categoria de pessoa que veio a ser... a nossa querida Mãe, Sogra, Avó e Bisavó... Tudo nomes com letra grande.






Manuel Jerónimo de Matos casou 2 vezes:


- Do 1º casamento com Teresa de Jesus Rebelo, teve uma filha: Ana (a Avó Ana de Matos).

 

Manuel Jerónimo de Matos com a 2ª mulher e filhas





- Do 2º casamento com Antónia Rebelo, tia da 1ª mulher.(a madrinha como a Mãe lhe chamava) teve uma filha doente, que morreu e depois um filho, António Rebelo de Matos (Ti Matos) que se casou com Amélia Eugénia Vaz de Sousa e que foram pais da Miló, Nelinha e Geninha que vivem na Figueira da Foz.


Tinha 2 irmãos e 2 irmãs:

- Jerónimo Pintassilgo (Tio Jerónimo) – Pai de Maria José Pintassilgo da “Casa Pintassilgo” da Covilhã e avô de Maria de Lurdes Pintassilgo que já foi Primeira Ministra...

- José Pintassilgo (Tio Zé maluco) que o Avô Matos teve que internar no Telhal pois tinha graves problemas mentais. Fugia muitas vezes de lá e uma vez apareceu para grande vergonha da família, no Pelourinho, com um rebanho de cabras.


Tio Zé maluco
O Avô Matos tinha uma grande preocupação com este irmão e deixou-o protegido no seu testamento, legando aos herdeiros que tomassem conta dele até ao fim da sua vida, pagando-lhe todas as despesas.

Assim, este Tio Zé quando se zangava com os sobrinhos (Avó Ana Matos e Tio António Matos) ameaçava-os em altos berros e dizia “façam-me zangar, façam que eu vou-me instalar no Avenida Palace até ao fim dos meus dias e vocês têm que pagar”!!!




- Piedade Pintassilgo (Tia Piedade) da qual ainda me lembro de ir visitar a Mãe quando nós éramos pequenos – uma velhinha de carrapito, muito magrinha, com uma cara fina e um ar triste.

- Ana Pintassilgo (Tia Aninhas), que morreu com cento e tal anos mas da qual não tenho qualquer recordação. Apenas sei que todos os dias bebia uma chávena de chá verde e segundo penso tinha vertigens...

Todos os irmãos eram Pintassilgos e o nome provinha duma alcunha que o Pai deles tinha, porque cantava muito bem ("como um pintassilgo", diziam).

Manuel Jerónimo de Matos não gostava desse apelido e retirou-o do seu nome quando se casou pela primeira vez.

A nossa casa

Logo que conseguiu, começou a investir o seu dinheiro comprando casas no bairro de São Paulo e noutros bairros da cidade, que ofereceu ao seu filho António Matos.

 
Houve, nessa altura na Covilhã, um enorme incêndio (o incêndio da mineira) que destruiu toda a parte central da cidade:

"O Incêndio da Mineira em 14 de Junho de 1907, foi talvez o de maiores proporções até hoje ocorrido na Covilhã, não só pela extensão dos estragos materiais que causou, como pela autêntica tragédia humana que desencadeou e que se saldou com a perda de 7 vidas, apesar da heróica actuação dos bombeiros covilhanenses que suportaram estoicamente a dura luta com o fogo."
"Sobre os escombros seria construído o edifício do Banco Nacional Ultramarino, com frente para a Rua António Augusto D'Aguiar e o prédio de azulejos da família de Manuel Jerónimo Matos.
Este volumoso edifício tinha frente para as ruas António Augusto D'Aguiar, Capitão Alves Roçadas e para o "Pelourinho", cuja fisionomia alterou de modo sensível."
"Neste volumoso imóvel, existiam consultório médico, residências, estabelecimentos comerciais, escritórios, café, Central de despachos, etc. e até a redacção e a tipografia do “Notícias da Covilhã” ali estiveram instaladas, durante algum tempo." (excertos de artigos do “Notícias da Covilhã” nos anos sessenta)


O Avô Matos comprou esse enorme terreno na Praça do Pelourinho  e mandouaí construir um prédio todo em azulejos azuis, do qual ainda se pode ver a fachada que dá para São Tiago.
Fachada esquerda

A parte da frente do prédio ofereceu-a à Câmara para aí fazerem um jardim.

Este prédio manteve-se no centro da cidade até aos anos 50, altura em que foi visitar a Covilhã o Eng.º Duarte Pacheco, Ministro das Obras Públicas do Governo de Salazar, que embirrou, por ver na Praça onde tinha mandado construir o prédio dos Paços do Concelho, um prédio de azulejos.
Desconhecendo ou fazendo por ignorar que aquele terreno tinha sido oferecido à Câmara pelo nosso bisavô para nele ser feito um jardim, mandou que construíssem na Praça um prédio em pedra, a condizer com a Câmara, que viria a ser para a Caixa Geral de Depósitos.

Ainda me lembro dessa obra que nos ensombrou todas as janelas da frente, deixando um espaço entre os dois prédios que as pessoas amigas chamavam o Beco do Amadeu!!!!!    (mas isso, foi muitos anos mais tarde...)

O prédio azul tinha 3 andares para a frente e 5 andares para a rua de baixo, com uma grande porta que dava para a Praça (Pelourinho) e uma escadaria enorme (pelo menos a mim parecia-me) com um corrimão brilhante, óptimo para escorregar.
Nos 1ºs andares ficou o armazém da fábrica.
No 2º andar ficou a viver o Avô Matos, sua Mulher e o filho António, que mais tarde herdou a casa depois da morte do pai.
Lá nasceram as suas três filhas – a Miló, a Nelinha e a Geninha.
Ofereceu à sua filha Ana, já casada e com dois filhos, o 3º andar da casa.

Contou-me a Miló que ele tinha a preocupação de comprar tudo igual para uma casa e para outra (o que dava à filha tinha que dar igual ao filho) e por isso tanto elas como a minha Mãe herdaram, mais tarde, imensas coisas iguais...

Vendeu o terreno atrás do prédio ao Banco Nacional Ultramarino, pelo valor fabuloso de seis mil escudos!!!! 
 Perguntou então à sua filha Ana, o que preferia que ele lhe comprasse com esse dinheiro. Se preferia um colar de pérolas ou um de brilhantes. Ela preferiu um colar de pérolas.
Esse colar é neste momento uma peça de estimação, pois com o aparecimento das pérolas de cultura, as verdadeiras deixaram de ter valor comercial.
Passou para a Mãe que mo ofereceu quando eu fiz 30 anos.
Era preferível ter sido o de brilhantes....



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A Quinta

 
 
Comprou ainda para oferecer à sua filha Ana, uma Quinta  na Boidobra, que por ter pertencido a uma Senhora de apelido Barreto, se ficou a chamar Quinta da Barreta.


Barreta

Esta Quinta foi durante 4 gerações, um dos sítios mais importantes da nossa família.

Foi na Barreta, que a minha Mãe e o Titó cresceram.

Mãe e Titó na Barreta
Foi na Barreta, que a Mãe passou a sua lua de mel.

Foi na Barreta, que o Avô Morais se esmerou em cultivar morangos, espargos, framboesas, melancias e plantou “prunus”, um buxo lindo, uma árvore no dia do nascimento de cada um de nós e onde fez com todo o carinho um azeite finíssimo, uma jeropiga excepcional e um vinho que ganhou vários prémios.

Foi na Barreta, que nasceu a primeira tulipa que o Avô Morais ofereceu à sua filha, no dia do meu nascimento.

Foi na Barreta, que nós aprendemos a vindimar, que vimos fazer o vinho e o azeite, que andamos de carro de bois (anda cá mourisca...anda cá malhada...), que começamos a andar de bicicleta.

Foi na Barreta que os meus irmãos e o Rui punham costis e caçavam com a “flaubert” uns passarinhos (não sei se eram pardais) que comíamos muito estorricados e que eram deliciosos.

Foi na Barreta que havia uma figueira que já tinha os degraus feitos para subirmos e brincarmos em cima do seu acolhedor tronco carcomido.








Foi na Barreta, que viveram connosco vários “Serra da Estrela” chamados ou “Tojo” ou “Leão”.

Foi na Barreta, que festejamos os nossos aniversários, com campeonatos de “mata” e de “volley”.

Foi na Barreta, que nos metemos pelo rio a dentro em grandes brincadeiras com as nossa amigas (Meca, Lena Ordaz, Alçadas, Lila, Noémia....)

Foi na Barreta, que o Sr. Espiga nas noites dos Santos populares fazia brilhar os mais sofisticados fogos de artifício.

Foi na Barreta, que a Isabel deu a sua primeira festa de dança.

Foi na Barreta, que passamos várias Páscoas e Verões com toda a família reunida.

Foi na Barreta, que a minha Mãe recebeu os netos durante vários Verões, com um batalhão de empregadas a ajudar e de onde todos os meus sobrinhos e filhas têm as melhores recordações de infância.
 




Foi na Barreta, que os meus sobrinhos tiveram como presente da Avó, um burro que havia de fazer a delícia das suas brincadeiras e uma casa de bonecas onde antes era a casa do pastor.





Foi na Barreta, que todos nós fomos felizes e passamos desgostos.

Com grande alegria e alguma saudade, cada um de nós vendeu ao meu irmão João no ano de 2002 a sua parte, de forma a que a Quinta que neste momento já era de imensa gente, se mantenha em pé, com alguém que a conserve e que se possa manter dentro da família.


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Sua Mãe e seu Pai

Foi com algum desgosto que o Avô M. J. Matos viu a sua filha Ana, para a qual tinha sonhado um grande casamento, apaixonar-se pelo empregado do seu escritório António dos Santos Morais (o avô Morais) bonito rapaz, trabalhador, mas que não correspondia ao que ele tinha ambicionado para a filha.

No entanto, o Avô Morais (o seu Pai tinha morrido com fama de santo) com a sua delicadeza, trato agradável e bom feitio, conseguiu cativar o sogro, que passou a contar com ele, como colaborador.

Ana, era uma personalidade forte, uma mulher alta e bonita, com cabelo preto forte e brilhante (que segundo a Mãe dizia, eu herdei) e que sabia bem o que queria





Com a sua generosidade e conversa fácil, tinha a amizade de muita gente na Covilhã.
Toda a gente a tratava por Dona Ana e mais tarde os caseiros da Quinta, tratavam-na por “Senhora Dona Donana”...


Sei que adorava o Pai (o Avô M. J. Matos), adorava o irmão António Matos  e também tinha uma predilecção especial pelo filho António.
 Isso causava uma certa perturbação e ciúme na filha Maria da Luz (a Mariazinha como era tratada).

 Quando tinha 6 ou 7 anos, deitava-se no meio do corredor a fingir que tinha desmaiado e ficava toda contente quando via a preocupação da Mãe.
Ana e António,  casaram no dia 15 de Setembro de 1910 e ficaram a viver na casa por cima da pastelaria, até ao nascimento dos seus filhos Maria da Luz e 4 anos mais tarde António e só depois se mudaram para o 3ºandar do prédio grande e azul.

 
Ana e António Morais


 

Manuel Jerónimo de Matos morreu, infelizmente para toda a família, bastante novo, com 56 anos de idade e sem ter tido tempo para deixar alguém preparado, para continuar e fazer progredir o negócio que tão bem soube iniciar e fazer prosperar.

Reparei agora, ao olhar para as sua Memórias, na quase coincidência de datas de nascimento e morte com as da sua neta Mariazinha.
Ele nasceu a 4 de Março (1865) e ela a 6 de Março (1914); ele morreu a 25 de Março (1921) e ela a 24 de Março (2002).

Foi um grande desgosto para toda a família.
Todos se vestiram de preto, as fardas das criadas eram pretas e até os bibes das crianças eram pretos.

A Mariazinha, com 7 anos, estava na varanda com o cabelo cheio de papelotes para encaracolar o seu cabelo finito, pois ia à noite vestida de anjo na procissão, quando lhe vieram dizer que tinha chegado um telegrama de Lisboa a participar que o Avô tinha tido um ataque de coração.
Teve muita pena mas não sabia bem se o seu maior desgosto era a morte do Avô ou... de não poder vestir-se de anjo...


Com os filhos de luto




Graças a Deus, havia a Avó Ana, que tinha herdado do Pai o sentido do rigor e que se opunha a gastos excessivos.




Mariazinha e António


Quando a Mariazinha tinha tinha 6 anos, entrou lá para casa, como criada, uma pessoa que haveria de ser mais tarde uma referência para todos nós: Maria da Conceição Raposo (a Bábá como veio a ser chamada mais tarde pelo meu irmão João) e uns anos depois entrou a Ana e a Maria dos Santos (tias da Jú) que foram alicerces do desenvolvimento de toda a família.

 Rezo a Deus pelas três que foram tão importantes para nós todos, com uma dedicação total e absoluta a uma família que não era a delas.




A Ana e a Bábá

A Ana e a Bábá


Com 7 anos, a Mariazinha foi mandada para o Colégio interno das irmãs Doroteias de Vila do Conde e tendo embora gostado imenso de lá andar e desenvolvido grandes amizades, com filhas da melhor sociedade do norte do País, sofreu bastante a rigidez de educação da altura, o frio, as exigências das madres.

Aprendeu tudo o que uma menina devia saber: pintar, bordar, fazer talha, estudou literatura inglesa, aprendeu bem o francês, mas não ficou com nenhum diploma e só depois mais tarde, com a sua perseverança e já depois do nascimento dos filhos, resolveu fazer a 4ª classe de adultos, juntamente com a sua grande amiga Maria Leonor Alçada que também tinha tido a mesma educação.

Mariazinha no Colégio

Nessa época a família Morais era feliz e próspera.

Família Morais



Adorava o Colégio, as amigas, as férias passadas em casa com o mano António e as amigas Barata (a Flávia e a Eugénia) e tinha uma vida fácil e feliz.
Mas nem tudo pode correr sempre bem.

Sua Mãe, tinha ido a um funeral e bebeu lá um copo de água que não devia estar muito própria.
Passados dias, adoeceu com um grande febrão e foi-lhe diagnosticada febre tifóide.
Nesse tempo não havia antibióticos e esta era uma doença mortal.

Chamaram a Mariazinha do Colégio que regressou a casa a tempo de ainda ver a sua Mãe viva e assistir ao 1º Grande Desgosto da sua vida.
A Avó Matos por quem sempre rezamos em pequenos, nasceu a 7 de Novembro de 1888 e morreu a 13 de Fevereiro de 1927 com apenas 38 anos.
Toda a minha vida, ouvi a Mãe falar-me, da falta imensa que a sua querida Mãe lhe fez, mas penso que foi este grande desgosto que a fez aos 12 anos crescer e com o coração apertado, começar a aprender que é preciso andar para a frente, enxugar as lágrimas e viver.


  No Colégio, chamavam-lhe o Sr. Doutor, pela sua voz rouca inconfundível, pelo seu nariz arrebitado e pela opinião acertada que sabia emitir sobre todos os assuntos.
   A fábrica e o armazém ficaram a cargo do Avô Morais e do Tio Matos, dois rapazinhos novos, sem grande experiência e que se viram a braços com uma fortuna que era mais fácil gastar, do que fazer evoluir.