Acabei hoje de ler "Vida em mim" do Nuno Lobo Antunes, editado por Verso da Kapa, Edição de livros lda, 1ª edição, Outubro de 2010.
Foi o 1º livro que li do autor e o que me despertou a curiosidade foi uma entrevista feita pelo Goucha no programa da TVI24 - "De homem para homem" a 6 de Fevereiro.
É uma semana na vida de um médico contada ao mesmo tempo que as suas memórias.
Gostei imenso do livro e da pessoa que o escreveu. Mostra-nos a sua humanidade e, embora zangado com Deus, que segundo ele, não fez a obra como devia ter feito e a deixou incompleta e cheia de defeitos, pareceu-me, daquilo que conta, uma pessoa com grandes qualidades.
É, além disso, um óptimo médico como tenho ouvido dizer.
Gostei de ler:
"As memórias são como brinquedos arrumados num cesto. Começamos por tirar umas para fora, e logo debaixo se revela outra, que nos apetece agarrar também, até termos espalhado no chão boa parte do passado. Depois, voltamos a arrumar tudo, até que um dia, por qualquer motivo, queiramos de novo brincar com elas."
Trouxe-me recordações da minha infância que estavam no "fundo do cesto":
"......E padeiros que deixavam o pão quente no saco de pano que a minha mãe lhes confiava. O pão não se limitava a ser alimento, era muito mais que isso.. O pão era uma obra de arte. Havia as vianas, com um entrançado que se separava do centro e se podia comer em separado. E os papo-secos......
....O leiteiro vestido de branco, surgia com vasos de alumínio à porta de casa, que o leite azedava se não fosse bebido de pronto. Os amoladores de facas e navalhas subiam lentos a rua, e anunciavam-se assobiando uma escala completa numa flauta de harmonia simples....enquanto empurravam uma bicicleta duma só roda, que tinha inevitavelmente um chapéu-de-chuva, de hastes quebradas, a tiracolo."
E trouxe-me a recordação do meu médico preferido, o meu Pai:
"....A prática clínica era para o meu Pai um razoável frete....
......Tinha uma enorme intolerância para a estupidez e uma tremenda falta de paciência para os enfadonhos......
......O meu Pai morreu e a arte de examinar um doente está moribunda....
......O estetoscópio revelava ao ouvido educado defeitos subtis....e apenas com os dedos e os ouvidos, rodando o fecho para cá e para lá, descobria o segredo do cofre. Perdeu-se essa arte, substituída pela utilização da tecnologia......
....o meu Pai...a quem nunca ouvi dizer algo, a que não valesse a pena prestar atenção."
Tudo o que o Pai dizia, e falava pouco, valia sempre a pena prestar atenção....
Tudo o que o Pai dizia, e falava pouco, valia sempre a pena prestar atenção....
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