13 outubro 2012

JMF

"Esta semana fui contactado por um órgão de informação para comentar umas declarações do Presidente da República. Pedi uns minutos para as ir ler. Pareceu-me então que os títulos podiam induzir em erro, mas quando expliquei que estava a ser feita uma leitura errada das palavras de Cavaco Silva, percebi que estava a desapontar o meu interlocutor. Afinal, eu não estava a sublinhar a "narrativa" dominante, não estava a seguir o guião-padrão do comentador. 
Este episódio não vale nada - só que é revelador. Quem segue com atenção o fluxo das notícias percebe como boa parte do que chega aos noticiários televisivos e radiofónicos são excitações sucessivas alimentadas por uma cacofonia de vozes que repete mais ou menos o mesmo, seja qual for o órgão de informação. Nos noticiários televisivos chega a ser aflitivo. O país parece feito de pessoas apanhadas a sair ou a entrar para uma sala a quem se arrancam umas declarações que raramente ultrapassam a dimensão do sound-byte. A seguir, os comentadores encarregam-se de esmiuçar essas declarações e, no dia seguinte, muda-se de tema. É frequentíssimo ouvirmos declarações e até assistirmos a debates onde se assume que, por exemplo, não se conhece ou não se leu o que está a ser discutido. E isso é feito sem que ninguém pareça incomodado.
O que resulta deste ambiente comunicacional é um país permanentemente à beira de um ataque de nervos, um espaço público onde as matilhas saltam de assunto em assunto e de preconceito em preconceito, e uma cidadania constantemente menorizada. Nenhum assunto sério resiste a este tipo de tratamento. Nenhum debate, por mais importante e necessário que seja, sobrevive ao choque indignado de meia dúzia de ideias feitas
.[...]"

Excerto de um artigo do jornalista José Manuel Fernandes no "Público".

É isto mesmo que eu penso.
Estamos permanentemente à beira de um ataque de nervos...

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