30 dezembro 2011

O que me diverte...e do que gosto

[...] "o que me parece é que Deus deve gostar imenso dos patetas porque não se cansa de fazê-los".[...] - pág. 143

[...]"Quando eu me apagar não me ponham nenhuma caneta no bolso: passo a escrever com o dedo."[...] - pág. 166

[...] "O Diabo de garfo e labareda, alarmava-me. E ainda por cima devia comer a sopa toda para o Senhor não chorar: que o Senhor derramasse lágrimas por um caldo verde excedia o meu entendimento. E como podia amar um Deus paradoxal, terrível nos castigos, mandando pragas e matando primogénitos, que juntava, a estas características de serial killer, prantos convulsivos de dor no caso de eu recusar a canja?" [..] - pág. 242

[...] "Apetecia-me um chupa-chupa de morango. Apetecia-me nascer. [...] Um chupa-chupa de morango ou um chupa-chupa de limão? Um chupa-chupa de limão, pronto, desses transparentes, que se vê o pauzinho. Apetece-me ter o o queixo peganhento. Que me limpem a boca
(- Está quieto)
com o lenço, me peçam
-Toma cuidado com os estofos, vê lá." [...] - pág. 267

"Deviam chover lágrimas quando o coração pesa muito" - Título da penúltima crónica



in Terceiro Livro de Crónicas - 1ª edição
Publicações D. Quixote - 2006

António Lobo Antunes

29 dezembro 2011

Bicicletas

Mãe e Titó - 1922
Que incómodo devia ser, andar em cima das pedrinhas todas do caminho!!!!

28 dezembro 2011

Martim

1993


Hoje faz 19 anos que nasceu um dos bisnetos que a Mãe ainda conheceu:  o Martim filho da Rita.

É um rapaz discreto, esperto e muito ajuizado.

Muito inteligente e bom aluno.

Está no 2º ano do seu curso de Gestão.

Deixo aqui esta fotografia de nós as duas, embevecidas com o menino a tomar o biberon no dia do seu baptizado, para ele ver como gostávamos e gostamos dele.

A Mãe teria imenso orgulho neste seu bisneto.

Muitos beijinhos de parabéns da Tia Ana

27 dezembro 2011

Missa do galo

Na missa do galo deste Natal 2011 distribuiram, na nossa Igreja, este poema:


Somos autobiografia de Deus

Quando despontarem as primeiras luzes do Seu cortejo
ainda nos faltará tudo:
o azeite na almotolia,
um alfabeto que descreva com outra firmeza o azul,
formas indivisíveis para este amor,
que só em fragmentos e numa gramática imprecisa
conseguimos viver.

Quando despontarem as primeiras luzes,
estaremos talvez longe:
à altura dos olhos continuaremos a trazer a mesma indisfarçável solidão
as mesmas mediações ilegíveis através do tempo
as mesmas demoras tatuadas.

O Seu advento encontra-nos sempre impreparados
e, contudo, este é o momento em que
por puro dom se nasce.

A Sua vinda testemunha o que não sabíamos ainda:
a nossa frágil humanidade é narração
da autobiografia de Deus.

José Tolentino Mendonça


Quanto mais vezes o leio, mais gosto.

25 dezembro 2011

Rita minha afilhada

Faz hoje anos a minha querida sobrinha Rita.

Como ia ser madrinha, vieram mostrar-ma
acabadinha de nascer.

Foi o 1º bébé que vi antes de ser lavado, penteado e vestido.

Senti logo uma grande ternura por ela.

Filha do meu querido e maior amigo irmão Pedro, tem (talvez por haver muitos casos de hereditariedade cruzada) mais parecenças comigo que qualquer das minhas filhas.

Não fisicamente, mas em gostos e maneira de ser.

Talvez por isso, é de todos os meus sobrinhos a que mais lê este blog.

Nunca faz um comentário (o que é uma pena) mas está normalmente a par de tudo o que vou escrevendo.

Porque se revê em muito do que eu escrevo e porque (tenho a certeza) é muito minha amiga.

Também eu, querida Rita, sou muito sua amiga.

Deixo-lhe aqui, neste espaço que é público (até tenho um leitor na Rússia!!!) um grande beijinho de parabéns como o que lhe dei na fotografia em cima quando você fez 15 anos(?) .

Muitos beijinhos da

Tia Ana

24 dezembro 2011

Música para esta noite

Natal




Com esta imagem das Penhas da Saúde deste ano de 2011 recordo os Natais da nossa meninice e o que escrevi no seu livro Mãe, aqui:

"Foram também um sonho bom, os Natais e as Páscoas e todas as festas religiosas que, na Covilhã, eram vividas com grande intensidade.
Acreditámos que era o Menino Jesus que punha os presentes no sapatinho até aos 10-11 anos.
Todos os anos, em meados de Dezembro, chegava da serra um cesto com musgo que cheirava a fresco e nós ajudávamos a Mãe a fazer um enorme presépio, cheio de ovelhinhas, pastores, lavadeiras, patos, um lago...
A tradição, era jantarmos em casa, irmos à missa do galo na Igreja da Misericórdia e depois cearmos em casa da Avó onde comíamos chouriças assadas (feitas pela Avó Aurora), com ovos mexidos. Uma tradição, que não tem nada a ver com o que se usava nas outras casas...mas...que era a nossa.
Cada um tinha um presente no prato.
Os primos, Rui e Jorge tinham os seus presentes junto ao presépio, mas só no dia seguinte, como em nossa casa.
A seguir à ceia havia sempre um teatro ensaiado pela Tia Ema.
O João, o Pedro e o Rui, faziam uma peça que era quase sempre o João a imitar o Avô na loja, o Pedro era um cliente e o Rui um empregado.
Punham toda a gente a rir.
Eu, recitava “O Pucarinho de Barro” e a Tété cantava a “Chiquita bacana”.
Houve um ano, do qual não me lembro pois era ainda muito pequena, em que a Mãe como tinha muitos presentes e não cabiam no sítio do costume, os pôs numa sala diferente.
Os meus irmãos, tinham umas botas que ainda não tinham estreado e antes de se deitarem foram pô-las ao pé do presépio.
No dia 25 de manhã, foram acordar a Mãe muito aflitos: “Ó Mãe, o Menino Jesus não nos deixou nada, e ainda por cima levou-nos as botas novas...”"
E os versos que constavam do nosso Livro da 2ª classe e que eu muito envergonhada recitava:

O PUCARINHO
O pucarinho de barro,
o pucarinho
tem bochechas encarnadas,
tem faces afogueadas;
dêem-lhe água coitadinho
que tem sede o pucarinho.

O pucarinho de barro,
o pucarinho
está ao pé de sua Mãe
sua Mãe bilha bojuda
que tem como ele também
a carinha bochechuda.
O pucarinho de barro,
o pucarinho
tem bochechas encarnadas,
tem faces afogueadas;
dêem-lhe água coitadinho
que tem sede o pucarinho.


Afonso Lopes Vieira

23 dezembro 2011

Arroz doce

A minha contribuição para o almoço de Natal em casa do Pedro é todos os anos a mesma: arroz doce, um bolo rainha e o vinho.

Como já ando um bocado esquecida deixo aqui uma lembrança de que tenho que fazer 3 receitas pois este ano só fiz 2 e tive que fazer depois mais uma.

A receita é dum livro antigo das Selecções do Readers Digest chamado "Doze meses de cozinha".

Como já o fiz muitas vezes, tenho os tempos todos cronometrados e sai sempre bem.

Se alguém quizer experimentar é assim:

Ingredientes (para 1 prato redondo de fundo baixo):

- 125g de arroz carolino
- 150g de açucar
- 7,5dl de leite meio gordo
- 3 gemas
- 1 pitada de sal
- 1 casca de limão
- 1 colher de sopa de manteiga
- 1 pau de canela
- canela em pó para enfeitar

Confecção:

Colocar um tacho ao lume com água e sal e quando levantar fervura meter o arroz deixando cozer durante 2 minutos. Escorrer.
Pôr o leite ao lume  com o pau de canela e a casca de limão. Quando ferver juntar-lhe o arroz que se vai mexendo de vez em quando.
Deixar cozer cerca de 10 minutos.
Retirar para fora do lume e juntar o açúcar e a manteiga mexendo bem.
Com uma colher deitar um bocadinho do arroz a ferver em cima das gemas e depois voltar a juntar.
Levar ao lume cerca de 2 minutos sem deixar ferver e mexendo sempre.
Está pronto.
Deitar num prato redondo de fundo baixo e depois de frio enfeitar com canela em pó.
Há pouca gente que goste de arroz doce.
Cá em casa gostamos todos.
Não sou grande cozinheira mas tenho algumas especialidades.
Esta é uma delas.

Outro bisneto


Nasceu hoje dia dos anos do avô João C. mais um bisneto dos avós M.L.

Primeiro filho da sua neta Mariana.

Mais um bébé para enriquecer a nossa família que já vai enorme.

É o 44º e vai-se chamar José Diogo em honra do avô do pai.

Parabéns aos Pais e avós.

20 dezembro 2011

Redacção



Mãe

Encontrei entre os papéis que havia na sua casa e que eu guardei religiosamente, este caderno com redacções escritas por si, no Colégio de Vila do Conde em 1927, tinha a Mãe 13 anos.

Parece uma renda!!! Tanto a letra, como a maneira como escreve.

Muito poética e contemplativa.
Muito diferente da Mãe que eu conheci, com os pés bem assentes na terra e muito mais prosaica.

Transcrevo uma delas:

Tema: Belezas do campo e do mar

"Quanta beleza há nestes dois aspectos que a natureza nos oferece. O campo!!! Ó maravilha das maravilhas. Para toda a parte para onde nos viremos e em todo o tempo teremos sempre novas belezas a admirar.
No Inverno tudo nos parece triste. São as árvores completamente despidas dando-nos a impressão de terríveis fantasmas. Os jardins que ainda há pouco se ufanavam das suas magníficas flores já não possuem agora mais que troncos secos e aqui e além uma ou outra flor. São ainda sobretudo os passarinhos que já não nos vêem alegrar com os seus alegres gorgeios. Mas no entanto no meio de todas estas tristezas há de vez em quando uma nota alegre. É a neve que cai cobrindo os campos com um alvo tapete e que parece destinada a vir purificar a terra depois das chuvas torrenciais que enlamearam os caminhos.
Vem depois a Primavera a delícia das estações. Que beleza e poesia nos oferece uma manhã de Abril. Nem a menor núvem tolda o azul do céu nem a mais leve brisa prepassa pelo espaço. Os passarinhos começam a fugir aos calores tropicaes e vêem pedir asilo aos beiraes dos nossos telhados. As flores começam então a despontar sorrindo aos primeiros raios de sol que as acariciam. Aqui e além vêem-se rebanhos pastando guardados às vezes por míseras criancinhas que principiam assim desde pequeninas a ganharem o pão de cada dia. Tudo isto nos enche a alma de poesia e de agradecimentos para com Aquele que é o autor de tantas maravilhas.
Mas ainda não param aqui todas as belezas do campo. Ainda há mais. Há ainda o Verão: Como é delicioso nesses dias de grande calor um passeio atravez dos prados agora soberbamente engalanados.
As árvores têem já outro verde que se mistura com as cores variadas dos apetitosos frutos, que o doirado sol de Agosto virá por completo amadurecer. De vez em quando há um esperto regatosinho que corre velozmente para ir refrescar os campos seus amigos..
Nunca mais acabaria se quizesse descrever uma a uma todas as belezas do campo; porém ainda há uma que é impossível deixar de descrever; é a das folhas caídas no Outono. Atravessam-se campos e campos e sentimos sempre debaixo dos pés o estalar das folhas secas que começaram por amarelecer e caíram por fim exaustas da missão cumprida. Tudo isto nos leva a amar e apreciar o campo.
                                                                  ******
No entanto não se pode desprezar o mar! Esse mar cantado por todos os poetas; esse mar, numa palavra "Belo e Selvagem" que ora é bravo como amansa repentinamente.
A brutalidade dos seus assaltos contra a praia e os rochedos grava-se de maneira pavorosamente sensível na memória do povo.
São as tempestades desvairadas e furiosas esbofeteando os penhascos e deglutindo esquadras. São as trombas de água gigantescas sangue-sugas do oceano e do Céu. É na realidade verdadeiramente brutal o belo mar selvagem nas suas tremendas manifestações de ódio e de pavor. Mas vem o Verão. Insensivelmente arrastada para os sítios de amena temperatura a multidão encaminha-se para a beira-mar à procura dos encantos estivaes das praias.
E aquele mar selvagem rancorosamente adiado pelas suas cóleras e caluniado pelas suas catástrofes passa de repente a ser olhado com simpatia passa a ser  o belo mar; como se o monstro da vespera pudesse milagrosamente transformar-se no mais terno cordeiro mansamente deitado nas praias a brincar com as crianças.
Como tudo isto é belo e no entanto não são mais que pequeninas amostras da beleza de Deus."

Apesar de se ter esquecido da pontuação, pois o texto não tem uma única virgula, parece-me extraordinário que uma miúda de 13 anos tenha uma tão grande riqueza de linguagem e use metáforas e outras figuras de estilo, com tão grande facilidade.

Parabéns Maria da Luz.

18 dezembro 2011

Alheiras


Deliciámo-nos hoje com as alheiras que trouxemos de São Bento.

Feitas de veado e javali e não já de perdiz e outras carnes como fazia a Avó Esther, mas ainda preparadas e fumadas no Norte.

Encontrei este postal com fotografia, que deve datar dos anos 40, endereçado a Mª da Luz Morais Leitão - Covilhã ( um endereço simples e rápido!) e escrito pela Mãe da Tia Esther que diz:

"Com os melhores e mais reconhecidos agradecimentos pela sua "docíssima" lembrança envio-lhe a nossa fotografia na faina dos chouriços que nos está agora a ocupar. Uma abraço amigo, Esther."

O selo é de 50 centavos (aproximadamente 0.25 cêntimos!!!!)

A "docíssima lembrança" deviam ser as muito apreciadas "gargantas" da Covilhã .

Ao fundo, vêm-se a meio a Srª D. Esther e do lado esquerdo, de chapéu e samarra, o Sr. Dr. Portela, avós maternos do Miguel.

Reconheço o criado negro, João, que muitas vezes vi servir à mesa em casa deles, fardado e de luvas brancas.

A fotografia, foi tirada no Cardido, na azáfama dos chouriços e das alheiras.

Já...

(...)
Já escondi um amor com medo de perdê-lo, já perdi um amor por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros. Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade…
Já tive medo do escuro, hoje no escuro “me acho, me agacho, fico ali”.
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de “amigo” e descobri que não eram… Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim."
(...)

Clarice Lispector (1920-1977)

De escritores brasileiros li Jorge Amado, Erico Veríssimo, José Lins do Rego e Vinicius de Moraes.

Talvez leia um livro de Clarice Lispector, de quem apenas ouvi falar por consultas na internet.

17 dezembro 2011

Professores

"...Eu não era sensível: era, segundo o Professor de português do liceu, uma besta. Lia as minhas redacções, fixava-me em silêncio um minuto, atirava lá do alto, lá do fundo, para o respeito da turma
- O número cinco é uma besta
e batia com a régua na secretária a sublinhar cada palavra
- Escrever é sujeito, predicado, complemento directo, ponto final e acabou-se, sua besta, anda a gozar comigo?
Mostrava as redacções com a classificação de Muito Medíocre, a encarnado grande, à que me chamava Antoninho cravo roxo, ela lia-as, relia-as, seguia-se um silêncio igual ao do professor de Português, em lugar do
- Sua besta
vinha uma frase a medo
- Eu acho que o menino ainda acaba escritor
e eu, um futuro rei do hóquei, a olhar para ela indignado......."


O que me divirto a ler Lobo Antunes!!!


in "Terceiro Livro de Crónicas" págs: 118-119
de A. Lobo Antunes

16 dezembro 2011

Outra multa

Estou irritada com o brio profissional do Sr. Miguel Gouveia.

Uns trabalham de menos, outros de mais.

Este, não perdoa!

Estacionei meia hora em Campo de Ourique.

Nova multa de 3,2 euros.

Bah!!!!!

Começa a ficar-me cara a Emel.

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento
.

Ferreira Gullar

E a propósito deste poeta brasileiro, deixo aqui este vídeo, dum outro pequeno poema que fez, quando morreu sua grande amiga Clarice Lispector, do qual também gostei.


14 dezembro 2011

Infecções

Hoje, uma amiga minha, esteve-me a contar o seu calvário com a Mãe que com noventa e tal anos está cheia de maleitas, como é normal nesta idade.

Além das que tem, ainda contraiu mais algumas, por ter precisado de ser hospitalizada.

Por duas vezes, no hospital (privado) apanhou infecções urinárias graves, cada uma de seu microorganismo diferente e altamente resistente à maioria dos antibióticos.

Perante o meu assombro (passo a vida espantada) com semelhante problema, ela afirmou-me que 1 em cada 8 pessoas (12,5%) que são internadas, apanham infecções hospitalares.

Será este número verdadeiro?

É aflitivo e muito preocupante.

Supermercado

Sempre me irritaram as meninas das caixas dos supermercados e as empregadas das lojas.

Acho que é o contacto mais directo que temos com uma classe de gente que não foi capaz de progredir nos estudos e que teve que ir trabalhar.

Gente frustrada, gente que não gosta do que está a fazer, com um emprego mas sem uma profissão e com uma carreira que dificilmente passará dali.

Atendem mal, estão sempre à conversa umas com as outras, ficam paradas a olhar para o vago enquanto nós metemos as coisas no saco, não se esforçam o mínimo.

Quando encontro uma que faz o seu trabalho com brio profissional, o que é uma raridade, dou-lhe os parabéns.

Bem podem fazer campanhas de marketing caríssimas. Enquanto não derem formação às pessoas que estão em contacto com o público e não lhes mostrarem que mesmo que não estejam felizes têm que ser amáveis e atentas ao que estão a fazer, não vale a pena gastarem dinheiro em publicidade. Só irrita.

Estou rabugenta hoje.

Mais L. A.

Estou a ler o "Terceiro Livro de Crónicas" do António Lobo Antunes.

Na página 72 da 1ª edição da D. Quixote, começa por citar Pessoa: "emissário de um rei desconhecido/eu cumpro informes instruções d'Além"[...]
E continua:
"Não quero contar histórias, não quero explicar, não quero demonstrar nada. Quando escrevo quero apenas libertar-me do que escrevo e, se quisesse alguma coisa, seria apenas, se a isso fosse obrigado, dar a ver[...]
Se me perguntam
- O que é que quis dizer com este romance?
A resposta sincera é
- Não quis dizer nada.
e não quis dizer nada porque me foi ditado. Isso terão de perguntá-lo a quem mo ditou"[...]


Mal comparado, foi o que eu senti quando escrevi o livro "A minha Mãe".
Que alguém mo tinha ditado.
Eu acho que foi a Mãe!!

13 dezembro 2011

Dor

"A dor que te dói não é igual à que me dói a mim, é certo. Não posso, por isso, entender como te dói a tua dor, pois que não a vivi, nem tu poderás entender como dói a minha dor, pois que nunca a sentiste.[...]"


Tirada do blogue que vou acompanhando:

 http://maepreocupada.blogspot.com/

12 dezembro 2011

Amor



Amor entre Mãe e filha em 1994.

Tínhamos uma grande afinidade.

Bastava às vezes um olhar para percebermos o que cada uma estava a pensar.

11 dezembro 2011

Os crepes da Ju

Temo-nos deliciado com os crepes de camarão da nossa antiga cozinheira e grande amiga Ju.

Como ela já está muito velhota e incapaz de os fazer, pedi-lhe que me escrevesse a receita.

Todas as grandes cozinheiras dão as receitas pouco mais ou menos.
As receitas da Mãe também não são muito de fiar.

Esta foi escrita pelo Sr Ilídio, seu marido e acho graça à frase:
"Passo a descriminar a quantidade dos camarões e restantes ingredientes:
2 Kg de camarões"

Aqui fica para quem quizer e conseguir fazer.

La gauche

Imagem daqui

Confunde-me o Bloco de Esquerda.

Sobretudo confundem-me e espantam-me (eu ando, desde que nasci, sempre espantada e cheia de medo!!!) aquelas mulheres e homens, que até parece serem inteligentes e que defendem qualquer coisa que me parece absurdo, inexequível, utópico, sem sentido.

Por vezes penso que eles não devem acreditar em nada de concreto e que devem ser pagos (e bem pagos) para defenderem as teorias que apresentam, tal como os do Green Peace e outras organizações semelhantes.

Será? Será que estão convictos que é possível que em Portugal  se pode implantar uma sociedade como a que eles querem? Sem União Europeia, sem Nato, sem euro, sem bancos, sem empresários, sem patrões, sem desemprego, sem agências de rating, sem “off shores”, tudo nacionalizado, sem ninguém que nos empreste um cêntimo….

Íamos todos para o campo cultivar as batatas que precisávamos de comer e o Sr. Louçã, o Sr. Fazenda  e a empertigadíssima  Ana Drago ficavam em Lisboa rodeados de jornalistas a fazer discursos sem sentido.

Seria assim?

E  hoje deu-me para falar nisto porque a tal menina Ana Drago, me lembra a minha ex-pupila. Lembra-me e de que maneira: é parecida fisicamente, é parecida no atrevimento, é parecida no arzinho de que “não faz mal a uma mosca”, é parecida no convencimento , é muito parecida…! Às vezes até penso que é a própria!

Sinto uma angústia imensa que me vem dum tempo que arrumei no sítio onde não se deve tocar: no confim dos pensamentos, no fundo da memória.

Estou a escrever isto e ao mesmo tempo a pensar: continuo? Vou “esgaravatar na ferida”?

Vou!

Gostava de deixar um bocadinho de mim, mais profundo neste blogue e reflectir em como  a vida não corre, às vezes, como nós desejaríamos. E também, para me ajudar a pensar, sobre esta época da minha vida.

Como dizia Ernest Hemingway: "O meu psicanalista é a minha máquina de escrever".


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Escrevi este post ontem à noite.
É claro que tive uma insónia.
Surgiu-me, com uma nitidez impressionante, o último ano da minha vida profissional que foi frustrante, angustiante, muito difícil.
Não vou escrever.
Fico por aqui… !


09 dezembro 2011

Primark

Gente - tirada daqui

Feriado.
Pouco dinheiro para compras.
Loucura da Mãe e da filha.
Gente aos montões.
Familias inteiras no frenesim das compras de Natal.
Bébés em carrinhos, ranhosos e a chorar, no meio da confusão (coitados - não têm onde os deixar!!).
Gente nova.
Gente velha.
Várias raças e cores.
E... nós!!!
Fizemos compras óptimas e divertímo-nos como só se diverte uma Mãe com uma filha grande...!

Adorei o programa.

Adorei sobretudo estar contigo, filha.

Disse-lhe vezes sem conta: I love you, I love you, I love you....

A sua Mãe - 1902

Um penteado pesadíssimo numa menina de 15 anos

Uma toillette igualmente pesada.

Um olhar e uma testa grande onde se vêm algumas semelhanças com muitos de nós.

As nossas raízes.


Ana de Matos Morais - Trisavó dos meus netos

08 dezembro 2011

Moda 1946


Chapéus e peles.

Os meus Pais (à esquerda) no casamento da Eugénia Barata.

07 dezembro 2011

António Alfredo


A Mãe discursando e o A.A.B. ouvindo



Soube pelo Facebook, através da sua filha Rita, que há 3 anos morreu António Alfredo Alçada Baptista.


Comentei no post que dedica ao Pai: "Um beijinho Rita. Tenho muito boas recordações do seu Pai e continuo deliciada a ler os livros dele"

Resposta dela: "Ele também se deliciou com o seu. Tenho-o muito bem guardado."

Fiquei contente e orgulhosa sobretudo por ela ainda o ter guardado.

Soube, a uma determinada altura,  que ele estava doente e desinteressado de tudo.
Mandei-lhe pela Rita, o Livro "A Minha Mãe" pois sabia da enorme amizade que os unia e do que ele gostava, das histórias que tivessem relação com a sua terra Natal.

Todos em nossa casa gostávamos muito do A.A.B.

Era sempre muito afável e carinhoso conosco.

Li os dois volumes da sua "Peregrinação Interior", "O Tempo das Palavras", "Os Nós e os Laços", " Catarina ou o Sabor da Maçã" e "Tia Susana meu amor" . Faltam-me os três últimos que vou ver se ainda consigo comprar.

Gosto da maneira como escrevia e muitas das suas histórias e descrições, fazem-me recordar a nossa infância comum, na Covilhã daquela época.

Tinha mais 10 anos que o meu irmão João e era, portanto, duma geração intermédia entre a nossa e a dos nossos Pais.

O Pai dele, Dr. Luis Baptista, tinha uma casa na serra vizinha da casa dos Alçadas, onde fomos passar 2 ou 3 verões.

Era um velhinho de cabelos brancos, também muito simpático que ia muitas vezes passar as manhãs à conversa com a Mãe.

Recordo-me do pavor que senti uma vez em que nos levou a sua casa, se embrulhou num cobertor e hipnotizou uma bengala no ar.
Não sei como fez aquilo, mas nunca mais me esqueci do ambiente soturno e do medo que tive.

Sempre fui uma miúda apavorada!!!!

05 dezembro 2011

Saramago

"Escrever é fazer recuar a morte, é dilatar o espaço da vida."

in  Jornal de Letras, 18 Janeiro 1983

29 novembro 2011

Coma comigo



Ontem fui ao lançamento do livro "Coma comigo" da Helena Sacadura Cabral, no Corte Inglês.



É uma pessoa a quem acho uma certa graça e gosto de ler o seu blog:
http://hsacaduracabral.blogspot.com/.

Comprei um livro para mim e mais 3 para oferecer no Natal.

Assisti à apresentação do livro na 1ª fila e, como me esqueci de desligar o telemóvel passei pela vergonha de ele se pôr não só a tocar, mas a dizer quem falava: Madalena, Madalena..... até que lá consegui desligá-lo.

Hoje resolvi experimentar a receita de arroz doce da sua Mãe que ela diz lhe lembrar sempre a Mãe, cada vez que o faz.
Fiquei desanimada!
Eu que faço um arroz doce que é um espectáculo, saiu-me uma argamassa sem explicação, mal cozido e bom para o caixote do lixo.
Como a receita é muito simples, penso que ela se deve ter enganado na quantidade de leite e de arroz que aconselha.

Só pode.

Vou experimentar mais algumas receitas, para ver se não enfiei um grande barrete!!!

28 novembro 2011

Passagem do tempo

Vamos quase sempre à missa ao Domingo à mesma hora, na mesma igreja e já lá vão quase 40 anos.

Há imensas famílias que, tal como nós, assistem à mesma missa não sei se por devoção, se por rotina ou apenas por ser uma hora que lhes dá jeito.

Há muitos a que comecei a dizer apenas bom dia e agora já quase posso considerar amigos.

Comecei a ir com as minhas filhas pequeninas, as 3 vestidas de igual, acariciadas pelas senhoras de idade.

Vi crescer os filhos dos vários casais, vi-os depois com os filhos grandes começarem, como nós, a virem com os namorados dos filhos, depois sozinhos e passado algum tempo são os seus filhos com os próprios filhos. 

Cada semana há mais um bébé e os que ontem éramos novos, a acariciar as cabeças dos pequeninos.

40 anos parece imenso.

Mas não é.

Vai-se dando pela passagem do tempo, semana após semana, na evolução das famílias que como nós, todos os Domingos vão à mesma hora, à mesma Missa.

27 novembro 2011

A flauta de barro


Foto tirada daqui





Acabei de ler "O livro de Crónicas" do António Lobo Antunes.

Uma delas, "A velhice" tocou-me especialmente:

"Devo estar a ficar velho: as Paulas Cristinas têm mais de vinte anos, os Brunos Miguéis já vão nos quinze, as Kátias e as Sónias deram lugar a Martas, Catarinas, Marianas. A maior parte dos polícias são mais novos do que eu. Comecei a gostar de sopa de nabiças. A apetecer-me voltar mais cedo para casa. A observar no espelho matinal desabamentos, rugas imprevistas, a boca entre parentesis cada vez mais fundos. A ver os meus retratos de criança como se fosse um estranho. A deixar de me preocupar com o futebol, eu que sabia de cor o nome de todos os jogadores do Benfica......................................................................................
Se calhar, daqui a pouco  uso um sapato num pé e uma pantufa de xadrez no outro e vou de bengala contar os pombos do Príncipe Real que circulam de mãos nas costas como os chefes de repartição em torno do cedro. Ou jogar sueca com colegas de boina na Alameda Afonso Henriques, de manilha definitiva suspensa no ar numa atitude de Estátua da Liberdade. Ou internam-me no Meu Lar, Recebe Idosos, Inválidos & Convalescentes a fim de passar as tardes à janela em casaco de pijama numa poltrona de orelhas, com os bolsos cheio de palitos, capicuas e migalhas de bolacha Maria, visitado na Páscoa por sobrinhos apressados e saquinhos de amêndoas. Quando der por mim encontro o meu sorriso na mesinha de cabeceira a troçar-me num copo de água com trinta e dois dentes de plástico. Reconhecerei o meu lugar à mesa pelos frasquinhos dos medicamentos sobre a toalha...........................................................................................................

Devo estar a ficar velho. E, no entanto, sem que me dê conta, ainda me acontece apalpar a algibeira à procura da fisga. Ainda gostava de ter um canivete de madrepérola com sete lâminas, saca-rolhas, tesoura, abre-latas e chave de parafusos. Ainda queria que o meu pai me comprasse na feira de Nelas um espelhinho redondo com a fotografia da Yvonne de Carlo em fato de banho do outro lado. Ainda tenho vontade de escrever o meu nome depois de embaciar o vidro com o hálito. Ainda caminho pela borda do passeio sem pisar os intervalos das pedras. Ainda me apetecia que o meu avô me viesse fazer uma festa à cama.................................................................................
Pensando bem
(e digo isto ao espelho)
não sou um senhor de idade que conservou o coração menino.
Sou um menino cujo envelope se gastou."

António Lobo Antunes
in Livro de Crónicas - -  págs: 39-40
Publicações D. Quixote, 1ª edição - 1998



O sonho do meu Pai, em menino, era que lhe comprassem uma flauta de barro, na feira de São Tiago.

Nunca lhe fizeram a vontade pois tinham medo que o "menino rebentasse".

Contava-nos sempre isso com uma certa nostalgia, até que não sei bem se foi um filho, ou um dos netos mais velhos, um dia lhe ofereceu, de presente, a dita flauta.

Parece que estou a ver a sua alegria, já era velhote, a assoprar na flauta e a rir, com aquele riso que tão bem lhe conhecíamos!!!!

Também o meu Pai:

"não era um senhor de idade que conservou o coração menino.
Era um menino cujo envelope se gastou."


E eu, Mãe, sua filha Anamenim, que também qualquer dia "internam no Meu Lar, Recebe Idosos, Inválidos & Convalescentes", para passar o dia de roupão e chinelos, à espera que uma alma caridosa me vá levar um pacote de nozes que não consigo mastigar....

Anamenim com 3 anos
Ainda me apetece que a

Bábá me vá aconchegar a roupa para eu adormecer, gostava de me dependurar de cabeça para baixo no espaldar do Colégio das Doroteias, queria o aconchego da mesa de camilha, com a sua braseira de brasas....gostava de acordar e adormecer com o som do carrilhão da Torre de São Tiago...


Também eu, Mãe:

"não sou uma senhora de idade que conservou o coração menino.
Sou uma menina cujo envelope se gastou."

26 novembro 2011

As good as it gets

Vi pela décima milionésima vez este filme: "Melhor é impossível"
Magnífica interpretação de Jack Nicholson e Helen Hunt.
Não me canso de o rever.



24 novembro 2011

Greve Geral?



Em dia de greve geral, os funcionários da Emel mantêm-se activos.
Fui levar o Zeca a casa e demorei 15 minutos.
Quando voltei tinha este presente.
Raiva!!!
Está Lisboa num caos , no que ao estacionamento se refere, carros em 2ª fila, carros em cima do passeio, a tapar garagens, etc, mas há uns funcionários mais atentos e em certos sítios que esteja ou não, o carro a incomodar, não perdoam nada.

Enfim!!!!

Mas não era só este que trabalhava naquele bairro.
Os funcionários da EPAL que andam a esburacar os passeios todos, também lá estavam em grande actividade.
Eram 6 em cada buraco e à boa maneira portuguesa, havia o Chefe, o Sub-chefe, o que transmitia as ordens aos 2 primeiros, o que estava só a ver, o que tomava notas num papel e por fim o desgraçado que trabalhava que deve ser o que ganha menos de todos.

Lisboa está uma cidade horrível de que apetece fugir.

Para onde?!!!!

22 novembro 2011

Welcome Joana

Nasceu ontem dia 21 de Novembro de 2011 a sua 43ª bisneta.
É filha do seu neto Kiko e da Rita e nasceu em Washington.
Deixo aqui muitos beijinhos para os Pais, que sei, vão acompanhando este blog e, para ela, esta música para a ajudar a dormir e as boas-vindas a este mundo e à nossa família.


19 novembro 2011

Carminho

Estou a tornar-me uma fã desta Carminho.

E adoro este Perdoname em dueto com Paulo Alboran

Aqui fica, com as imagens da nossa velhinha, Lisboa:

17 novembro 2011

12 de Setembro de 1963

Na minha deambulação por outros blogues encontrei este: http://memoriarecenteeantiga.blogspot.com/2011/08/beira-baixa-1963-setembro.html
com notícias de Castelo Branco em 1963 e esta notícia do casamento da Graça e do Pedro.
Não posso deixar de transcrevê-la.
Como éramos importantes nessa época!!!
Até havia um "palácio"...


15/Setembro
Casamento
Na Sé Catedral de Castelo Branco, celebrou-se no passado dia 12, o matrimónio da Sr.ª D. Maria da Graça Sanches Vaz Pardal, filha do nosso muito querido amigo Dr. Ulisses Vaz Pardal e de sua esposa Sr.ª D. Maria Amália Pestana Sanches Vaz Pardal, com o Sr. Eng. Pedro Morais da Silva Leitão, filho do Sr. Dr. Amadeu da Silva Leitão, médico cirurgião na Covilhã e de sua esposa D.Maria da Luz Matos Morais da Silva Leitão.
Apadrinharam o acto, por parte da noiva, o Sr. Dr. Albano Pereira da Cunha Pina, advogado em Castelo Branco, e sua esposa D. Mariana Serra da Cunha Pina que, por motivo de doença do Sr. Dr. Albano Pina, foram representados pelo irmão da noiva Sr. Dr. Vicente José Sanches Vaz Pardal, professor do ensino liceal e por sua esposa D.Maria do Rosário Pestana Casquilho Ribeiro Vaz Pardal e por parte do noivo, o Sr. Eng. António de Matos Morais, Director da Companhia de Seguros Douro e sua esposa Sr.ª D. Ester Lelo Portela Morais.
Foi celebrante o Sr. Cónego Anacleto Pires da Silva.
A missa, que teve grande afluência de fiéis, foi solenizada com cânticos por um grupo de Escuteiros de Castelo Branco, dirigido pelo Sr. Padre Manuel Carrilho Bogalho.
Em virtude da doença do Sr. Antero Vaz Pardal, irmão do pai da noiva, foram apenas convidados para o casamento, pessoas de família.
Após o copo d’água, que se realizou no Palácio do Sr. Dr. Ulisses Pardal, os noivos partiram em viagem de núpcias para o estrangeiro.

Lendo o mano mais velho

Como tinha já pensado há uns tempos aqui, e como tinha medo de não ter pachorra, pedi ao JC, especialista neste autor, que me emprestasse um livro "fácil".
Estou a ler o Livro de Crónicas e estou a achar a maior das graças.
Gosto da sua maneira de escrever, ao sabor do pensamento e passando de umas  coisas para outras, tal como conversamos.
Acho que deve ser um homem amargurado, vivendo na estratosfera, imbuído nos seus pensamentos e nas suas memórias da infância, que o marcaram como a nós todos, imensamente.
Há crónicas muito bem conseguidas, outras nem tanto. 
A maior parte é interessante e admira-me como ele se consegue pôr, tão bem, na sua própria pele como na de mulheres de meia-tigela, vivendo na Amadora ou Chelas, como na de rufias, gente vulgar, homens enganados, mulheres sovadas e até de malucos, do Hospital Miguel Bombarda.
E... volta sempre a Benfica, onde nasceu e cresceu e ao berço, onde, tenho impressão, gostaria de voltar....
Tenho sorrido, tenho rido e tenho gostado imenso de ler estas crónicas.
Quem me dera saber escrever assim...!

Para abrir o apetite de quem me leia, deixo aqui uma delas:


"O grande homem

    Soube que era um génio quando comecei a encontrar o romance nas montras das livrarias; quando o retrato principiou a aparecer nos jornais; quando dei a primeira entrevista à televisão. Consciente da minha celebridade e do meu talento pareceu-me injusto não sair para a rua de pé, em carro descoberto, cercado por guarda-costas de óculos ray-ban, a mostrar-me e a abençoar.
     Decerto que ao passar, num cortejo lento com motociclistas à cabeça, os homens tirariam o chapéu a persignarem-se, vergados de respeito, decerto que algumas velhotas ajoelhariam a rezar. Convicto da minha fama e da admiração dos contemporâneos resolvi, como era agosto, oferecer à Praia das Maçãs a dádiva da minha presença, seguro de aplausos, autógrafos, interjeições extasiadas e gritos de fãs à beira do desmaio.
     Cheguei por alturas do almoço após horas e horas numa bicha de automóveis domingueiros obviamente repletos de leitores entusiastas e parei no restaurante do Augusto onde uma multidão de súbditos se debruçava para o cherne, pronta a aclamar-me no fervor das paixões ilimitadas. Ninguém pareceu dar pela minha entrada: nem um maxilar deixou de mastigar o bitoque, nem um nariz emergiu do galheteiro para me observar com pasmo, e quando eu, agastado com a incompreensível distracção das pessoas, tossia a chamá-las, a voz do Augusto veio lá do fundo, do balcão, a apontar-me num brado que fez tilintar de susto os copos de Colares e sobressaltou a hibernação das lagostas a mancarem nos  calhaus do aquário
     - Olha o Antoninho! Dei tanto pontapé no cu daquele gajo!
     Meia dúzia de pálpebras subiram dos grelos, desinteressadas, e o Augusto a aplicar-me palmadas que me desconjuntavam as costelas
     - O menino a entrar na piscina pelo arame para não pagar e eu que fazia a segurança a correr atrás de si que é lá isso seu sacana? Ricos tempos.
     Apesar do precedente de colegas ilustres
     (Villon, Genet)
     embatuquei. E o Augusto, a empurrar-me com as palmas gigantescas para a mesa, ao lado dos caranguejos e das lagostas de um careca enfezado.
     - E aquela tarde em que você deu uma sova aqui no Zé Tó no ringue de patinagem? O menino era lixado. Muito pontapé lhe dei eu nesse cu. Ricos tempos.
     Eu não recordava a sova nem o Zé Tó, mas o enfezado que parecia guardar uma lembrança amarga resmungou a encostar-se ao aquário, como para se proteger de um novo estalo
     - O tipo tinha a mania que jogava bem à bola mas no torneio da praia só deu frangos.
     à esquerda do enfezado um homem sem dentes que não reconheci soprou do fundo do bagaço num rangido lúbrico
     - A mãe do menino é que tinha umas criadas que faz favor. Cada perna...
     as pálpebras dos clientes regressavam aos grelos e o Augusto baixinho, para a mulher que fritava peixe-espada o não escutar da cozinha
     - Boas
     e o enfezado vingativo
     - Ele não aproveitou nada daquilo era um anjinho era um artolas. O Casimiro do talho papou-as a todas.
     E dos longes do passado, como num sonho, veio uma motorizada com um capacete em cima a rondar-nos a casa cheirando a alcatra, enquanto o Augusto, enternecido, me continuava a martirizar os ossos num rodopio de saudade
     - O que é que faz agora seu maroto?
     e eu encolhido, humilhado, num fiozito de voz, surpreso com a extensão da sua ignorância
     - Escrevi um livro
     o enfezado, triunfal
     - As anedotas do Bocage, aposto
     agarrei-o pelo colarinho na ideia de o mandar fazer companhia aos lavagantes e o Augusto, orgulhoso, a apontar-me aos barris de cerveja
     - Sempre à porrada sempre na confusão. Muito pontapé lhe dei eu naquele cu
     um dos comensais, aborrecido, puxou uma espinha do beiço e fitou-me com ódio
     - Mande o seu menino embora que a gente quer comer em paz.
     A caminho da porta compreendi com raiva que os portugueses não me mereciam. Pensei em emigrar, em pedir asilo político na Embaixada da Colômbia, em suicidar-me com o remédio das baratas. Já no carro ainda vi o Augusto a acenar-me, ainda escutei o enfezado.
     - Não te esqueças de me mandar as anedotas do Bocage
     e preparava-me para arrancar quando um velhote abandonou a espetada e avançou a correr para mim a acenar o guardanapo
     - Um momento um momento
     afinal alguém me lera, alguém me respeitava, alguém sabia quem eu era. Desliguei o motor, preparei o sorriso do autógrafo e o velhote debruçado para mim
     - O senhor não é por acaso...
     eu a pensar Até que enfim
     - Sou sou
    e ele, iluminado
     - ... o sobrinho do barbeiro?
     Deve ter sido por causa do clima
     (sinceramente não encontro outra razão)
     que nunca mais voltei à Praia das Maçãs."

António Lobo Antunes
in Livro de Crónicas - -  págs: 141-143
Publicações D. Quixote, 1ª edição - 1998