30 outubro 2010

2ª Parte - Dos filhos

Minha quida, minha quida” como eu lhe chamava e sempre era enxotada – “que peganhenta que é esta miúda...”


Que saudades que eu tenho dela... a falta que me faz.


Sempre me fez sentir eu ser a única e a mais importante de todos os filhos, que eram cada um deles os únicos e os mais importantes também.
Horas e horas de conversa, noitadas até às 3 da manhã, conversas que se repetiam, mas que eram tão boas...O Pai ia-se deitar não sem que primeiro fizesse aquela parte: “Pum...pum... tudo para a caminha” e fechava as luzes e desligava a braseira. E nós lá ficávamos com a Mãe, com ela a recordar, a contar-nos coisas da vida dela.
Os lanches, os bolos, as procissões, os Natais e as Páscoas, os Srs Padres, a LIC, a Flávia, a Covilhã toda ela...
Já cá em Lisboa sempre a querer saber de tudo e de todos era o elo de ligação desta família.
Quando eu entrava lá em casa, depois de me pentear cuidadosamente no elevador, ela abria os braços muito abertos e dizia: “a minha Tarequinhas” e era tão bom... e sentava-me ali com ela a ver a televisão aos gritos.
Não quero pensar, nem penso muito nela porque a dor que me deixou é muito funda e ainda não me habituei a que ela já não está. Nem ela, nem o Pai. Para trás já não temos ninguém, já não podemos perguntar nada a ninguém.
E tantas vezes que eu precisava dela.
Sei que continua a tomar conta de mim e da minha família mas tenho de fazer de conta que está lá na Covilhã e que não há telefones.

Minha quida, minha quida” ...que saudades que eu tenho dela.


Maria Teresa Morais Leitão Freitas da Costa (Tété)

Lisboa, 20 de Dezembro de 2002

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"Como criaste tanto menino?
Gostando mais do mais pequenino!"
"Coitadinha da minha mais pequenina, que é aquela com quem hei-de viver menos!"

Dizia estas duas frases, muitas vezes, tanto a mim como depois as repetia à Isabelinha.
Embora gostasse muito que a primeira fosse verdade, tenho a noção que a segunda não foi, de todo, verdadeira  porque eu fui, de todos os filhos, a que viveu mais tempo com a mãe, por ter tido a sorte de poder estudar em casa até aos 18 anos.
Por outro lado, vivi muito mais as várias fases da sua doença e habituei-me desde muito nova a só contar com a mãe aos soluços. Ou estava "em cima" e comandava as tropas com os seus: "tens que", "já foste?", "já fizeste?", ou estava em baixo e: "é tudo uma confusão", "tenho tanta coisa para fazer e não sei com se faz","como é que faço?"etc. Por isso quando fez 80 anos disse: "Como tenho vivido aos bocados hoje parece que faço mas é 40 anos!"
Quanto mais tempo passa depois da sua morte, mais saudades tenho dos seus miminhos, das suas mãos sempre frias, da sua voz rouca da qual o Pai costumava dizer "O pintinho rouco - Um cego que a veja nunca mais a esquece". Tenho saudades do seu espírito sempre jovem e "prafrentex" sempre a experimentar as novidades da civilização, sempre a dizer-nos coisas bonitas que nos davam a ilusão de sermos os melhores e mais bonitos do mundo!


Maria Isabel Morais Leitão Camarate de Campos

Lisboa, 26 de Janeiro de 2003

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Embora tenha sido eu a escrever a primeira parte e deixando registado ao longo de todo o texto o que a Mãe representou para nós todos, não quero deixar de também nesta segunda parte dizer o que a Mãe foi para mim.

Tenho orgulho na Mãe que Deus me deu:

- Por ter tido o privilégio de ser sua filha.
- Pela educação que nos deu e os valores que nos transmitiu.
- Pelo sonho que foi a nossa infância.
- Por ter sido tão bonita e tudo lhe ficar bem.
- Pelos seus lenços perfumados e pelo bem que a Mãe e as suas casas cheiravam.
- Por ter sido meiga e atenciosa com as minhas amigas.
- Por tanta conversa que tivemos.
- Por ter comandado o barco lá de casa e ter mandado para a esquerda e para a direita.
- Por me ter deslumbrado com a sua facilidade de comunicação.
- Por ter tratado tão bem o Pai.
- Por se ter orgulhado dos filhos e dos netos.
- Por ter gostado tanto do Jorge.
- Por ter elogiado as minhas filhas.
- Por me ter permitido ajudá-la na sua velhice.


Um beijinho com o amor eterno da sua filha



Ana Maria Morais Leitão de Castro

Lisboa, 6 de Fevereiro de 2003

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Quando casei com o Pedro, chamei-a de Mãe e assim foi pela vida fora.
Foi um exemplo de uma mulher forte que acompanhou sempre o evoluir da vida.
Queria a união da família.
Quando vinha a Lisboa, lá íamos todos, nesse mesmo dia, à casa onde ela estivesse.
Eu gostava, de ouvir aquela voz dela, especial e única (ainda a tenho gravada dentro de mim) da sua alegria de viver, das conversas longas que tivemos.
O Pedro telefonava-lhe todos os dias. Agora, já não precisam de telefone. Concerteza que os dois estão juntos pedindo a Deus pela nossa família.


Maria da Graça Pardal Morais Leitão

Lisboa, 6 de Março de 2003

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