Não me vou alargar muito neste último capítulo, pois é o que está mais presente na memória dos seus netos a quem principalmente é destinado este livro.
Os dois sozinhos (1986/1993)
O desgosto da morte do seu filho querido, isolou os dois velhotes que passaram a viver mais um para o outro.
Recebiam de vez em quando um ou outro neto, mas começaram a ficar mais cansados.
Em Fátima no dia das bodas de ouro com a Rita |
Quando vinham a Lisboa já nunca mais foi igual, pois a falta do Pedro, foi para sempre, uma ferida que ainda hoje não conseguimos sarar.
A Graça, teve a enorme coragem de continuar a fazer todos os festejos que eram de tradição na sua casa.
Continuou e continua ainda hoje, a festejar o dia dos anos da sua filha Rita que coincide com o dia de Natal, em sua casa onde desde que ela nasceu, há 36 anos, vamos sempre todos.
A Mãe com a sua habitual vitalidade e uma enorme fé de que ele estaria melhor que nós, conseguiu superar ao fim de algum tempo, a enorme perda e andar para a frente. Gostava de falar dele, das histórias dele em pequeno, do horror que foi a sua doença e o seu sofrimento e muitas vezes arrependia-se de ter sido dura com ele em criança.
O Pai, mais metido consigo, falava muito pouco no filho e quando nos via a conversar sobre ele, dizia sempre: “Muito gostam vocês de esgravatar na ferida”.
Como o Pai gostava muito de jogar no Casino da Figueira da Foz , o que segundo ele dizia, era “uma evasão”, pois quando estava a jogar não pensava em mais nada, alugaram à Geninha Matos uma casa ao ano e passaram lá grandes temporadas.
Como somos uma família como as dos ciganos, para onde vai um vão todos, tanto eu e a Isabel, como a Graça, passámos a ir nas férias, também, para a Figueira da Foz.
Foram umas férias boas, pois estávamos todos juntos, os miúdos continuaram a sua convivência com os Avós e, para nós provincianas, é sempre agradável voltar a viver nem que seja apenas por um mês, numa cidade da província.
Quando estava na Covilhã a Mãe, apesar de mais cansada, nunca deixou de receber todas as pessoas amigas em sua casa.
Continuou com os lanches em que, enquanto ela “esfalaçava” (como dizia o Pai) ele lá ia acompanhando a conversa e saboreando as ricas queijadas e o cházinho.
A Mãe a esfalaçar... |
O Chazinho |
As vindas a Lisboa começaram a ser só em ocasiões especiais.
Vieram ao casamento do Paulo, do Pi, do João, da Rita que foi em Castelo Branco e da Maria.
Festejamos com um grande jantar os 80 anos do Pai na Quinta de São José em Sobral de Monte Agraço que teve como alegria suplementar o regresso da Tété e de toda a sua família ao nosso País.
Ela trouxe-lhe de presente um enorme embrulho com oitenta presentes que ele se divertiu imenso a desembrulhar.
Parecia um menino pequeno.
80 anos - 80 presentes |
Ainda lhe festejamos os seus 84 anos no casamento da Maria que mandou fazer para o Avô um grande bolo cheio de velas.
O meu querido Pai adoeceu no ano seguinte.
Foi operado a um tumor no maxilar no IPO em Abril e morreu no dia 26 de Julho de 1993.
A minha irmã Tété recebeu-os em sua casa durante toda a doença do Pai, deu-lhe o seu quarto e todo o carinho possível.
A Mãe nunca saiu de perto do seu querido marido e companheiro de toda uma vida.
A última fotografia do Pai |
A Mãe sozinha
Apesar de toda a sua genica, a Mãe era muito dependente do Pai.
Nunca tinha assinado um cheque, estava habituada a que ele tratasse de tudo o que era dinheiros, contas, seguros, pagamentos, impostos, etc, etc.
Tomei um bocadinho a meu cargo toda essa tarefa e passei a ser como ela me chamava “a sua secretária particular”.
A distância dos filhos e o isolamento naquele casarão da Covilhã sem companhia, apenas com a Luísa durante o dia, começou a ser preocupante para nós.
Ela achava sempre que estava lindamente pois tinha muitos amigos e sentia-se ainda muito forte para subir aqueles dois andares a pé e fazer a sua vida com autonomia.
A morte do Tio Amável, seu grande amigo e que lhe resolvia todos os problemas práticos e a vinda da Tia Fernanda para Lisboa, obrigou-nos a pensar seriamente em procurar uma casa para a Mãe junto de nós.
Foi a melhor coisa que fizemos pois os seus últimos tempos teriam sido infernais, se não tivéssemos tomado essa decisão.
O João alugou-lhe uma casa em Campo de Ourique onde acho que ela, apesar de estar sozinha, ainda passou uns anitos bons.
Gostava de ir a pé até à missa em Santo Condestável, ir tomar o seu cafezinho à Pastelaria “Az de Comer”, fazer as suas compras e ir à Caixa Geral de Depósitos actualizar a caderneta.
Gostava, sobretudo, de estar perto dos filhos, acompanhar a vida de cada um, saber de todas as histórias que se relacionavam com os netos e ir acompanhando o nascimento dos bisnetos.
Ainda conheceu 16 bisnetos.
Com a sua eterna mania de dar de comer a toda a gente e também porque era a maneira de ter a certeza que tinha sempre companhia, marcou dias da semana para cada um ir lá almoçar ou jantar.
Eu ia almoçar todas as Terças feiras e às vezes levava uma das minhas filhas.
O João ia almoçar à Quarta feira.
O Kiko e o Filipe iam à Quinta feira.
O Miguel e a Tété iam jantar uma vez por semana conforme a sua disponibilidade.
Além dos fixos, recebeu também os outros netos todos e fazia questão em juntar os que tinham maiores afinidades, para poderem estar juntos e gostarem de estar com ela.
Para todos continuou, durante muito tempo, com uma conversa actualizada e esmerava-se em lhes dar os petiscos que eles gostavam e que foi ensinando a fazer, às empregadas cabo-verdianas que entretanto lhe fomos arranjando.
A casa de Campo de Ourique passou a ser um local de encontro de toda a família.
Com a neta e os bisnetos |
No Verão foi comigo durante 3 ou 4 anos para a Figueira da Foz onde esteve bastante bem, reatando amizades antigas e acompanhando até ao fim da vida a Tia Amélia Matos e as suas primas que tinham sido as suas amigas de infância.
A sua vinda para Lisboa foi uma maneira de ter maior contacto com os netos filhos das filhas que eram os que conhecia menos bem.
Todos eles, penso, ficaram com uma óptima recordação da Avó.
Com a Marta
Assistiu a vários casamentos, baptizados, comunhões e foi passar várias Páscoas com o João à Quinta da Barreta para matar saudades.
Em Ponte de Lima - casamento da Mariana Portela
Em São Bento no baptizado do Luís
Uma das últimas Páscoas na Quinta
Em 1998 festejou na sua casa os meus 55 anos pois eu tinha ido a Bruxelas e não tive tempo para fazer nada e escreveu-me este cartãozinho.
A sua letra
Festejei-lhe os seus setenta e cinco anos e a Isabel festejou-lhe em Évora os oitenta e cinco.
75 anos em minha casa
85 anos em Évora em casa da Isabel
Ainda lhe festejamos os 88 anos em sua casa, em Campo de Ourique, a 6 de Março de 2002, tendo ido visitá-la quase todos os seus netos e bisnetos.
A Mãe deixou-nos no dia 24 de Março de 2002, faz agora um ano.
Era Domingo de Ramos, dia em que a Mãe gostava de trazer da missa o seu ramo abençoado.
Ficamos sem ela.
E.... as saudades são cada vez maiores.
Minha querida Mãe de quem tanto gostei.
Obrigada por me ter ajudado a escrever estas memórias que espero sejam lidas pelos seus netos e bisnetos.
Tenho esperança que algum dos vindouros, pegue no fio da meada onde eu o deixei e continue a escrever a história da nossa família.
Acabo esta parte do livro escrita por mim, deixando à minha querida Mãe um enorme xi coração que gostava de lhe dar e o eterno amor de todos os seus filhos, netos e bisnetos que cá ficaram mais pobres depois da sua partida.
Terminei de escrever em Lisboa em 13 de Abril de 2003 (Domingo de Ramos de 2003).
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