30 outubro 2010

Dos amigos

Querida Ana

Faz meses que morreu a sua Mãe, embora pessoas como Ela pelo bom testemunho de vida, se imponham à morte.
A Senhora D. Maria da Luz (nunca consegui chamá-la apenas de Maria como Ela me pediu, porque me lembrava sempre aquela mentora e ensaiadora dos teatros infantis que então se faziam, e por nos distanciarem doze anos em idade) foi um pouco minha Mãe. Não quero minimizar o que de meus Queridos Pais recebi, mas...eram santos da porta. Foi pois a sua Mãe, que de certo modo, guiou a minha infância. Depois a vida afastou os nossos rumos, mas gostávamos sempre de nos encontrar.
Um dia precisei um favor duma pessoa que a ela estava ligada por laços de família e não me deixou sair de sua casa sem que na minha presença tivesse feito o telefonema que me concedeu o favor.
Havia uma amiga comum que teve na vida um azar económico. Ela, prestou-se a pedir auxílio a todas as pessoas que a conheciam, para que a dita pessoa tivesse o básico todos os meses, até arranjar emprego, e entregava o citado auxílio a uma insuspeita 3ª pessoa, para que não houvesse recusas ou sujeições.
Ainda uma outra vez, houve quem necessitasse de vender um bem e Ela própria procurou quem o comprasse. Quando a dita pessoa saiu do hospital e porque não tinha família chegada, albergou-a em sua casa até lhe encontrar um lar conveniente.
Era assim a sua Mãe. Uma pessoa de acção que não deixava ninguém sair vazia de junto dela.
Eu não gosto de homenagens póstumas, se nunca se fizeram em vida de quem as mereceu, por isso é para mim uma grande satisfação ter participado activamente numa homenagem que lhe foi prestada, na altura em que daqui saiu para morar em Lisboa.
Quando se foi embora do nosso convívio covilhanense, eu e a Zé Baltazar juntávamo-nos a lamentar a falta que Ela nos fazia ali num 3º andar da Rua António Augusto d’Aguiar, onde subíamos para colher o fruto que nos faltava.
Tinha o dom do acolhimento.
Enfim, vivia plenamente e com sabedoria, o mandamento do amor ao próximo. Ofereci-lhe uma vez um modesto poema e é para mim muito grato ter-lhe dado essa alegria. Passo a escrever esse mesmo poema.


RAIZ

Eu já sou o próprio Inverno
Raízes e mais raízes
Afundaram-se em chão eterno
E atestam dias felizes.
Já não dou folhas nem flores
Mas o tronco carcomido
Rende-se ao Céu em louvores
P’lo tempo que foi vivido.
E os pássaros com loucura
No meu tronco mesmo assim
Lá se amam com ternura
Sem se lembrarem de mim.
Mas para eu ser feliz
Basta-me ser a raiz
Com o tronco a dar carinho
Para haver vida no ninho.
Maria Alice
Já vai longa esta carta mas não a quero acabar sem lembrar a maneira como Ela vivia os desagrados da vida.
Não divulgava muito os seus desaires, mas vivia-os intensamente e provo o que acabo de lhe dizer. Um dia, estávamos ambas a rir por qualquer circunstância e Ela que tinha sofrido o maior desgosto que uma Mãe pode passar, parou de rir e disse-me: “Sabes Alice, quando me rio, parece que sinto em mim qualquer coisa que me acusa.”  Chorámos as duas.
Não quero terminar sem com saudade lembrar também o seu Pai que tão carinhosamente me chamava Alicita.
Ana, um beijo para si e agradeço a Deus ter posto a sua Mãe no meu caminho.
A sua Mãe que tinha o nome que melhor a definia – Maria da Luz.

Maria Alice Monteiro

Covilhã, 18 de Novembro de 2002

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Querida Ana

Desculpa não ir por fax nem por computador, mas acho que para falar da tua Mãe tinha que ser assim, à antiga... Risca, altera tudo o que achares que não interessa. Não me ofendo nada. Tu é que lideras o “processo” e é de grande “monta”. Foi bom tê-la conhecido e ainda mais tê-la como amiga. Há datas que não estão certas como por exemplo os anos em que foi Presidente da Acção Católica. Por favor emenda.
Um grande beijo. Tiveste um enorme privilégio de ser filha da Maria da Luz.
A amiga

Maria da Luz Morais Leitão


Começou por ser a Senhora D. Maria da Luz com toda a cerimónia (como era normal no relacionamento da época dada a diferença de idade que existia entre nós) e acabou sendo a Maria da Luz minha grande amiga.
O consultório do meu Pai era no mesmo prédio da casa onde a Tia Maria da Luz vivia, portanto havia aqueles encontros de boa vizinhança pois já existia entre eles uma amizade antiga.
Lembro-me das festinhas que dava no terraço da sua casa, era eu miúda (tinha uma certa tendência para ser casamenteira...)
Mais tarde, teria eu 23-24 anos na A.C. (Acção Católica) de que foi Presidente Diocesana entre 1959 e 1970. Foi num curso muito simples que fez sobre “o que é a A.C.”. Aprendi muito sobre como se devia ser uma boa cristã no meio em que se vivia. Coisas que nos dias de hoje ninguém fala, uns porque não sabem nem lhes diz nada e outros porque têm vergonha...
Uns anitos depois, como era uma óptima cozinheira e fazia entre outras coisas umas empadas deliciosas, deu na casa dela uma lição completíssima de como fazer as ditas empadas, sem omitir qualquer segredo do “métier”. Não era dessas. Gostava de fazer render os seus muitos talentos a favor dos outros. Aliás, tinha uma frase que usava oportunamente: “Metade do mundo nasceu para ser servido e a outra metade para servir”.
Havia uma outra frase que gostava de dizer (penso que era de um embaixador do Brasil em Portugal) com muita graça tentando falar com sotaque brasileiro: “Portugal, país esquisito onde os palácios são das Necessidades e os cemitérios são dos Prazeres”.
Um episódio que se passou com ela e com uma pessoa que sabia de educação de crianças, que lhe perguntava como tinha educado os filhos, pois conhecia-os e achava que tinha tido um enorme êxito. Ela respondeu que os rapazes aos 10 anos tinham ido para o Colégio para Lisboa, as 2 raparigas mais velhas estiveram até ao 5º ano da altura no Colégio das Doroteias e depois também foram para Lisboa, só a mais nova se manteve na Covilhã até ao 7º ano antigo pois nessa altura a “terra” já tinha liceu. A senhora em causa disse: “aos 10 anos já lá está tudo”. Penso que o “tudo” seriam os alicerces da formação humana e cristã que tinham recebido em casa.
Em 1984 perdi a minha Mãe e, na missa do 7º dia, onde ela me acompanhou, pedi-lhe se não se importava de ficar a substituí-la. Ela, claro, com toda a generosidade (que tinha muita) aceitou, e eu senti-me mais acompanhada.
Quando tinha dúvidas maiores ia ter com ela e, ultimamente também com o Dr. Amadeu Leitão que entretanto se reformou.
Tive um problema grave de saúde e o Dr. Amadeu deu-me uns conselhos preciosos para enfrentar a doença que acho que foram vitais. Por ironia do destino, no seguimento da minha doença e na do Dr. Amadeu ainda fomos “colegas” no IPO durante 2 ou 3 dias. Felizmente eu sobrevivi.
Voltando a 1984, a sua grande amiga Maria Leonor (minha sogra) morreu de repente, estava ela em Lisboa, pois o seu filho Pedro estava doente. A Maria Leonor telefonava todos os dias a saber dele. No dia 19 de Maio teve outro telefonema da Covilhã e terá dito a quem atendeu o telefone: “Foi a Maria Leonor que morreu”. Dizia que de repente tinha tido um pressentimento. Iria ainda às Degracias (terra da Maria Leonor) despedir-se dela, apesar da angústia que lhe ia na alma e, a enorme vontade que tinha de estar ao pé do Pedro, aproveitando ao máximo a sua companhia.
Ela era assim.
Em 1993 ficou sozinha em casa. Os filhos e os netos queriam-na em Lisboa para a poderem gozar melhor. A viagem de Lisboa à Covilhã nessa altura era quase uma aventura. As amigas da Covilhã que ainda tinha e eram muitas, organizaram um lanche num restaurante da Covilhã e, uma mesa enorme encheu-se.
Eu fiz um simples jantar em nossa casa para a despedida, juntando as 3 amigas (Ilda Espiga, Florinda Alçada e Beatriz Pintassilgo) achando que seriam as mais íntimas da altura.
A Covilhã ficou mais pobre.

Em Lisboa, os nossos encontros passaram a ser menos frequentes, pois eu também tinha todos os filhos e netos em Lisboa.
Depois de uma vida “cheia” em Março de 2002 já merecia descansar.
Senti muito a sua morte.

Maria José Baltazar Alçada

Covilhã, 20 de Novembro de 2002

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A minha grande amiga Maria da Luz era, além de uma inteligência fora do vulgar uma pessoa sempre pronta a ajudar quem dela precisava: além dos conselhos muito amigos sabia “ouvir” o que não é muito fácil e assim vivia os problemas que lhe eram postos, com todo o coração e amor.

Quem teve a sorte de pertencer à sua intimidade viveu muitos, muitos dias tão agradáveis, lanches com óptimos bolos por ela feitos, especialmente umas queijadas deliciosas e ali na casa dela falávamos, falávamos das nossas vidas dos nossos problemas e das nossas alegrias.

Para aumentar, se possível, a nossa amizade e intimidade tenho um filho casado com uma das filhas dela o que como é natural nos aproximou ainda mais e temos netos comuns que nos deram sempre muitas alegrias.

Tudo o que disse ou poderia dizer seria pouco e, portanto, fico-me por aqui com a maior saudade dos tempos com ela passados.


Maria Fernanda Camarate de Campos

Lisboa, 1 de Dezembro de 2002

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Quando recebi o convite da autora, a minha grande amiga Ana Maria, fiquei tão sensibilizada que agradecer nem me ocorreu. Mas, e esse convite o que era?
Dizia-me a Ana: “estou a escrever um livro sobre a vida da minha mãe. A primeira parte será tudo aquilo que sinto, tudo o que me lembro e me faz recordá-la. Mas, para este livro ficar completo peço a alguns familiares, às minhas amigas ou às amigas da minha Mãe que escrevam pequenos episódios ou recordações que a lembrem com ternura, mais de perto”.
Ora este convite foi-me feito, porque tanto eu, como os meus pais e os meus irmãos éramos e somos íntimos da família da Senhora D. Maria da Luz.
Foi para o meu Pai uma conselheira e amiga, e o seu marido, o Senhor Dr. Amadeu, seu grande amigo; para a minha Mãe uma segunda “irmã” sempre disponível a ouvi-la e a acarinhá-la, quando, longe da sua família, nada podia esperar; para os meus irmãos uma segunda “Mãe”, segura do seu instinto maternal e, para mim, uma defensora.
Quando, na Covilhã, saía do Colégio, com os meus sete, oito anos, muitas vezes era convidada pela Ana ou pela Tété para ir um “bocadinho” lá para casa. Esse “bocadinho” era certo e sabido que incluía o jantar.
Não é das fantásticas brincadeiras que vou recordar, porque então outro livro teria que ser escrito!! mas sim do carinho, da delicadeza e da importância com que a Senhora D. Maria da Luz me tratava: os meus trabalhos de casa eram os melhores, a minha letra a mais bonita, a minha maneira de estar à mesa a mais educada, o meu comportamento o mais correcto e... só eu é que sabia tocar piano tão bem!
Dizia-me muitas vezes: “Vais ser como a tua Mãe”!
Esta sua atitude era tão simples mas... tão sentida e importante para mim!
Foi talvez quem mais me enalteceu na minha meninice, juntamente com a Tia Maria Elisa irmã da minha Mãe.
Nos anos seguintes, já mais crescida, enquanto estive nos Colégios do Porto e de Lisboa o contacto com a Senhora D. Maria da Luz foi mais espaçado; mas, após o meu casamento e na minha primeira ida à Covilhã, fomos (eu e o Carlos) convidados para um jantar em sua casa.
Tudo recomeçou de novo até há bem pouco tempo antes de nos deixar: nos bons e maus momentos conversámos pelo telefone, uma com a outra.
Aquando da sua vinda para Lisboa, passados dois anos da morte do Senhor Dr. Amadeu (o nosso médico), convidei-a para jantar em nossa casa e, algum tempo depois retribuiu-nos com um jantar em que nem faltou a “sopa dourada” sobremesa tão apreciada por todos os convidados no dia dos anos do meu Pai e que a minha Mãe tão bem confeccionava. Lembras-te Ana? Foi um gesto muito bonito que me sensibilizou bastante, e me fez recordar a minha Mãe, a sua maior amiga e confidente.
Conservo em meu poder uma carta que a Senhora D. Maria da Luz me enviou por ocasião da morte do meu irmão Alexandre Maria. Uma carta de recordações e conforto que guardo com muito carinho.
É por todo este meu testemunho que a Senhora D. Maria da Luz continuará a ser para mim a minha “segunda Mãe”.
Muito obrigada Ana, por me proporcionares revelar por escrito o que estava tão guardado no meu coração a respeito da tua Mãe.
Parabéns pela ideia e continua...


Helena Maria Catalão Espiga Maia Malta (Lila)

Lisboa, 15 de Dezembro de 2002

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Ana

Fiquei muito contente quando a Miana me disse que ia fazer um livro da vida da sua Mãe.
Foi através de um carinho muito grande que o Pi e a Miana lhe tinham que eu comecei a ficar mais ligada à sua Mãe.
Não foi muito tempo, com muita pena minha, mas foi o tempo certo para a lembrar com tantas qualidades que tinha.
Acho que foi um grande marco na vossa família e não só, pois tinha uma Luz especial, uma cabeça brilhante, uma graça oportuna, uma amiga que não vou esquecer.
Embora fossemos duas gerações eu nunca o senti, pois estávamos sempre de acordo nos programas.
Vou contar-lhe alguns episódios que guardo, pois definem bem a personalidade dela:

Uma vez fomos as duas de combóio para o Porto ter com o Pi e a Miana e logo na bilheteira me surpreendeu, pois ao comprar o bilhete o empregado perguntou-lhe se tinha o BI ao que a Tia a sorrir respondeu: “talvez já tenha idade para algum desconto, nem me lembrava!”.
Quando chegamos ligou logo para uma amiga do Colégio (que não via há 70 anos) que duas horas depois estava lá em casa com os álbuns de algumas décadas. Foi um serão cheio de recordações e alegrias que eu e a Miana partilhamos, pois as duas estavam muito actualizadas e felizes.

A partir daí falávamos e víamo-nos mais. Convidou-me algumas vezes para irmos juntas para a Barreta.
Ali eu percebi o que aquela Quinta lhe dizia, as recordações, as histórias, a casa que a viu crescer e viver tantas gerações.
No Verão, quando mudaram a Fonte, vi que ficou muito contente. Todos os bisnetos tomaram lá uns mergulhos.
Ao fim das tardes ia habitualmente para aquela bonita varanda onde atentamente todos ouvíamos as suas histórias interessantes.
Quis Deus que continuássemos juntas numa caminhada menos feliz, mas pontualmente lá estávamos as duas à conversa à espera de Força e melhores dias.
Foi uma senhora com muita Luz que, como o seu próprio nome, não se apagará da nossa memória.


Maria Isabel Cabral Picão Caldeira

Lisboa, 16 de Dezembro de 2002

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Conheci a Sr.ª Dona Maria da Luz ainda não tinha sete anos e desde aí nunca mais deixei de pensar na família toda.
Ia à Covilhã todos os meses acompanhar a minha Mãe que levava lá a casa os bolos de Manteigas de que toda a família gostava muito. Envergonhada, encolhia-me atrás das saias da minha Mãe quando aparecia aquela senhora muito simpática que dizia “Olha a Cândida!” com uma voz rouca e a mastigar uma coisa que ia puxando. Minha Tia Ana dizia-me: “Não tenhas medo. Aquilo são pastilhas de esticar que vêm de Paris.
Quando acabei a escola comecei a ir algumas vezes para a Quinta brincar com o Sr. Dr. João e com o Sr. Engenheiro Pedro. A minha Mãe adoecia e eu tinha que voltar para casa, tomar conta dos meus irmãos, pois sou a mais velha dos cinco que ficaram vivos.
Andei assim para trás e para a frente até aos 19 anos em que fui definitivamente tomar conta da Isabelinha que era Bébé. e desde aí nunca mais me separei da Família Leitão.
Considero-a a minha segunda família e à Srª Dona Maria da Luz a minha segunda Mãe.
Devo-lhe muito carinho.
A mulher que hoje sou a ela o devo com todo o Respeito que lhe tenho.

Maria de Jesus Neves Pombo

Lisboa, 1 de Março de 2003

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A Mãe Maria da Luz, conheci-a na minha juventude, quando ainda não era costume o tratamento de “Tia”.
A distância entre gerações era mais marcada.
Lembro-me dela como uma mulher activa, não só na família, como na sociedade e na Igreja do seu tempo.
Numa dada altura a vida aproximou-nos.
O seu querido filho Pedro, meu cunhado e meu amigo, deixou-nos prematuramente, e eu tive o privilégio de o acompanhar nos momentos mais difíceis da sua doença. Ela sabia-o e por isso se criou entre nós uma espécie de cumplicidade.
Eu, tendo conhecido bem até ao fundo quem era o Pedro, passara a entrar na intimidade da Mãe que perdera a sua pérola.
Foi assim que vivemos e partilhámos as alegrias e as dificuldades da família de então para cá.
A Mãe Maria da Luz é para mim uma referência de fé, firmeza e coragem.
Dou graças a Deus por ter sido minha amiga.


Nini 

Maria Cecília Carrelhas Vaz Pardal

Lisboa, 23 de Março de 2003

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Excerto retirado do livro “Memórias de uma vida - 60 Anos de Sacerdócio ao serviço da Igreja e da Comunidade” da autoria do Padre Dr. Mendes Fernandes (Director do Centro Cultural e Social, Director do “Notícias da Covilhã” e Assistente da Acção Católica Portuguesa) e cujas fotocópias me foram enviadas pela Sr.ª D. Maria Alice Monteiro com estas palavras: “a sua Mãe era assim...”

O facto passou-se na inauguração do Cine-Centro que foi obra do Dr. Mendes Fernandes e na qual estiveram presentes diversas individualidades da Cidade e da Igreja, mas na qual foi completamente descurado um pequeno agradecimento que fosse, ao seu obreiro:
...............................................................................”Como tudo foi pequeno para tanta gente e para tantos amigos que não puderam participar na nossa Festa que na sua simplicidade foi grande!
Foi grande pela presença de cinco Prelados da Igreja: os senhores Bispos de Lamego, Coimbra (residencial e auxiliar) Aveiro e Viseu.
Grande sobretudo pela lição do filme que propositadamente se escolhera “Um homem para a eternidade” que descreve a vida e a morte de Thomas Moore – um testemunho impressionante de fidelidade à Igreja, e que o Sr. Bispo de Aveiro apresentou com a elegância que lhe é peculiar, lendo os tópicos de uma magnífica conferência que foi distribuida por todos os assistentes, como lembrança daquela noite.
Estiveram presentes, o Sr. Governador Civil do Distrito, o Sr. Presidente da Câmara, Vereadores, membros do Cabido, o Clero da Cidade e da região, as autoridades e inúmeros benfeitores.
O Sr. Bispo da Guarda, acompanhado do Sr. Bispo de Aveiro, subiu ao palco, proferiu palavras de saudação e agradecimento.
Dirigiu palavras de louvor ao Sr. Cónego José de Andrade e sublinhou a importância do Centro na Pastoral pós-conciliar.
O espectáculo que se iniciou com o documentário sobre a Covilhã, decorreu em beleza. A partir deste dia, a Cidade da Covilhã ficou enriquecida com duas boas salas de espectáculos: o Teatro Cine da Covilhã, de antigas e gloriosas tradições e agora o Cine-Centro.
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Como se deduz da reportagem, a meu respeito nem...uma palavra!
Minhas primas que estavam sentadas a meu lado, não conseguiram conter as lágrimas. Eu, senti cá dentro a “pancada”, talvez a maior humilhação da minha vida, que venci olhando para Cima...E quando se olha para Cima depara-se, no alto da Montanha, com uma cruz – a Cruz onde o Divino Mestre sofreu a maior humilhação da sua vida para a redenção da humanidade.
Passados dois dias, deslocou-se ao Centro um grupo de Senhoras da LICF de que eu fui Assistente desde a minha chegada à Covilhã.
Estas Senhoras que tomaram diversas iniciativas (chás de convívio, vendas de Natal, etc.) para angariar donativos, tinham acompanhado de perto a minha actividade e preocupações...
À frente do grupo vinha a Sr.ª D. Maria da Luz Morais Leitão, senhora de extraordinária inteligência e...sem papas na língua (como se costuma dizer). Que me perdoe a expressão que traduz bem o seu caracter inteiriço.
Ela tomou a palavra: “Vimos aqui desagravá-lo. Numa atitude de solidariedade com a injustiça e ingratidão de que foi alvo na inauguração do Cine-Centro de que foi o maior obreiro, pois conhecemos de perto os sacrifícios que tal empreendimento lhe exigiu, atrevemo-nos a sugerir-lhe: pegue nas chaves do Centro e do Cine-Centro e do “Notícias da Covilhã” e vá entregá-las ao Sr. Bispo.”
A minha resposta, depois de uma palavra de gratidão e reconhecimento, foi pronta: “mas eu não estou aqui com os olhos postos no Bispo. Estou aqui a trabalhar “em missão de Igreja” a “Causa” que merece todos os sacrifícios.”
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A minha Mãe às vezes era assim.... (Nota da filha Ana Maria)



Lisboa, 13 de Janeiro de 2003

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