Foi no dia do meu pedido de casamento que conheci a Maria.
Estava receosa em defrontá-la pois o António prevenira-me que queria que eu gostasse dela e que fossemos amigas para sempre.
A Maria era para ele a Mãe que perdera aos 8 anos.
Fiquei preocupada com este desejo.
Os pedidos de casamento na casa dos meus Pais eram festas com todas as formalidades. O primeiro contacto entre as famílias realizava-se na sala dourada onde todos os bibelots e quadros eram de valor e os sofás e bergères eram forrados de “aubusson”.
Resumindo, era uma sala onde nunca entrávamos e só usada para actos solenes.
No meu quarto esperava que me chamassem para ir à “amostra”. Estreava um fato novo da casa “Último Figurino” e várias vezes olhava para o espelho afim de ver se estava bem. Sentia-me uma mercadoria que ia ser avaliada.
A campainha tocara e pressenti que a minha família se ia encontrar com a família do António.
Meia hora mais tarde, a criada veio chamar-me dizendo que podia ir para baixo.
Desci as escadas devagar, degrau a degrau, e não saltando de patamar em patamar como costumava fazê-lo. Senti-me envelhecer.
Entrei na sala dourada com um sorriso convencional, afim de esconder o meu nervosismo.
Olho para a minha futura cunhada, aquela de quem teria de gostar para sempre. Era nova, com muito bom ar e com um olhar inteligente e observador. Tão observador que imediatamente me senti despida e radiografada, sem perceber qual fora o diagnóstico.
Concluí porém, que a Maria devia ser uma pessoa fora do comum, mas, para ser sincera, duvidei se poderia vir a ser amiga dela para sempre.
Casei-me, e tive ocasião de ir passar um tempo à Covilhã, onde a Maria habitava com a família.
Consegui então perceber quem era a Maria:
- uma óptima dona de casa.
- com uma formação moral fantástica.
- Boa Mãe e óptima educadora (os filhos são a prova desta qualidade).
- Boa Esposa.
- Boa Filha.
- Boa irmã.
- e, mais tarde, Boa Cunhada.
A Maria, formara uma família unida e maravilhosa.
Todos partilhavam das mesmas alegrias e dos mesmos desgostos.
A Maria estava sempre pronta a resolver todos os assuntos, com clareza, inteligência e energia.
Os seus conselhos eram acatados por todos pois eram válidos e justos.
O António não tinha que recear.
A grande amizade que se gerou entre nós foi para sempre.
Esther Gouveia Portela de Moraes
Lisboa, 27 de Novembro de 2002
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Querida tia Ana:
Desculpe a demora!
E ainda não vai o do meu pai, mas eu fui-me adiantando.
Não sei se era este tipo de escritos que queria, mas aqui vai:
“E recordar é viver!
Para realizarmos um futuro feliz, é muito importante olharmos para os exemplos de vida que conhecemos e tentar segui-los.
O da tia Maria da Luz é um deles que, à semelhança do que Deus nos pede, deu tudo o que podia, educou os filhos, netos, bisnetos, sobrinhos e amigos com toda a sabedoria, amor, crença e vontade!
Um grande beijinho.”
Maria Portela de Morais
Lisboa, 20 de Janeiro de 2003
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